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quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

JESUS DE NAZARÉ

DEVO ACREDITAR EM TUDO?

Jesus é um personagem histórico muito bem documentado. Pode-se até duvidar de seu ensino, mas não que ele realmente tenha existido na Palestina nos primeiros trinta anos do primeiro século. Nenhum historiador de credibilidade jamais negou, de forma que fosse reconhecido pela comunidade científica, a figura histórica de Jesus de Nazaré. 

Dizer, como alguns, que as pessoas acreditaram que Jesus existiu e fez o que os evangelhos afirmam ter feito deve-se a ingenuidade crédula de uma era pré-científica, não se sustenta. Diante de um fato incomum a descrença era o comportamento natural dos personagens bíblicos, algo nada diferente do homem moderno. José, por exemplo, não acreditou que Maria poderia estar grávida e virgem ao mesmo tempo (Mt. 1.18-15). Até mesmo a jovem Maria, ao saber da notícia de sua gravidez, questionou como isso seria possível diante do fato de sua virgindade (Lc. 1.34). Por um momento João ficou com dúvidas se Jesus era ou não o Messias (Mt. 11.1-3). Os discípulos não acreditaram que Jesus ressuscitaria até o momento em que o viram ressurreto. A explicação mais plausível para a ausência do seu corpo era que o tinham levado e não que havia ressuscitado (Jo. 20.1-15). 

Queremos dizer com esses exemplos que não há como admitir a existência de Jesus e negar ao mesmo tempo os fatos incomuns em sua vida. Como se a única verdade histórica a seu respeito foi que além de ser carpinteiro, terminou seus últimos momentos numa cruz. Os contemporâneos de Jesus não entenderam no primeiro momento muitos eventos estranhos de sua vida. Duvidaram inicialmente tanto da concepção virginal quanto da ressurreição, pois sabiam, tão bem quanto qualquer pessoa, que virgens não engravidam e que mortos não ressuscitam. Os evangelistas foram forçados a admitir, por mais difícil que fosse, o peso da veracidade de tais acontecimentos, mesmo diante de todas as evidências contrárias. Negar tais eventos alegando que eles não ocorrem hoje, é ingenuamente achar que os mesmos facilmente ocorriam no primeiro século.

Se Jesus é o Filho de Deus, precisamos levar a sério seus ensinamentos, incluindo a confiança que ele depositava na Bíblia como um todo. Se ele não é quem afirma, por que iríamos nos importar com o que a Bíblia diz a respeito de qualquer outro assunto? (KELLER, 2015, p. 145) 

UM JESUS HUMANO, MAS NÃO QUALQUER HUMANO.

O que podemos aprender da humanidade de Jesus nas páginas dos evangelhos? Desconsiderar os evangelhos nesta questão é incorrer no erro de criarmos um Jesus à nossa imagem. O livro o Código Da Vince, assim como o filme criaram uma certa comoção entre as pessoas pois apresentava uma figura alternativa de Jesus que não condiz com os quatro evangelhos. O fascínio pelo novo que existe em um mundo pós-cristão, aliado a possível descoberta de documentos que retratam o verdadeiro Jesus oculto pela igreja ao longo do tempo, é a receita perfeita para atrair a atenção do público.

Jesus foi um homem igual a qualquer outra pessoa, com exceção da concepção – foi concebido milagrosamente, bem como por sua natureza santa – ele não tinha pecado. Logo de cara, podemos ouvir alguns protestos: “então ele não foi tão humano quantos as outras pessoas?” “Se não tinha pecado, como ele poderia ser tentado pelo mal?” Vamos por parte!

A concepção virginal acha-se registrado em Mt. 1.18-25; Lc. 1.26-38. Esse milagre nos diz somente que um homem não participou do processo para a geração da criança. Depois da concepção milagrosa, a gestação se deu naturalmente, respeitando todo o processo de desenvolvimento do bebê (Lc. 2.6). Jesus era sem pecado não porque nasceu de Maria sem a participação de José, mas por causa da ação poderosa do Espírito Santo (Lc. 1.35). Ele era santo não por ser filho de Maria, mas por ser Filho de Deus Pai. 

Embora não tivesse pecado (Jo. 8.46; Hb. 4.15), as tentações que passou foram tão reais quanto a de qualquer pessoa, até mesmo mais real (Mt. 4.1-11). Sobre isso, o escritor C. S. Lewis nos esclarece com as seguintes palavras: 

Nenhum homem sabe realmente o quanto é mau até se esforçar muito para ser bom. Circula por aí a ideia tola de que as pessoas virtuosas não conhecem as tentações. Trata-se de uma mentira deslavada. Só os que tentam resistir às tentações sabem quão fortes elas são. Afinal de contas, para conhecer a força do exército alemão, temos de enfrentá-lo, e não entregar as armas. Para conhecer a intensidade do vento, temos que andar contra ele, e não deitar no chão. Um homem que cede à tentação em cinco minutos não tem a menor ideia de como ela seria uma hora depois. [...] Cristo, por ter sido o único homem que nunca caiu em tentação, é também o único que conhece a tentação em sua plenitude – o mais realista de todos os homens. (Cristianismo Puro e Simples, p. 189). 

A pergunta que devemos fazer não é se Jesus foi tão humano quanto nós somos, mas se nós somos tão humanos quanto ele foi. O pecado é uma espécie de vírus que infectou todas as pessoas. Ele não fazia parte do que é ser humano. É comum as pessoas falarem que “errar é humano”, como se o erro mostrasse nossa humanidade. O erro mostra somente que somos pecadores. O pecado nos torna menos do que deveríamos ser. Jesus é o não infectado. Aquele que tem e ao mesmo tempo é a cura. Ele é o que deveríamos ser, a imagem de Deus sem pecado. E é isso que ele faz na vida dos que o seguem, restaura a humanidade distorcida e adoecida mortalmente pelo pecado. Com certeza Jesus não foi humano como nós somos, ele foi mais humano.

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