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terça-feira, 14 de abril de 2020

COVID-19

Faz algum tempo que não escrevo em meu blog. Com os últimos acontecimentos relacionados com a atual pandemia do coronavírus e em contato com um de meus antigos alunos do seminário, fui motivado a produzir esse post. Desejo lançar algum feche de luz nessa escura situação que nos encontramos. 

Não é de hoje que as pessoas pensam estar vivendo os últimos momentos da história diante de acontecimentos globais com grande magnitude. Essa não é a primeira pandemia e penso que não será a última. Costumamos, nessa hora, correlacionar acontecimentos à luz de alguns textos bíblicos. Isso aconteceu com a virada do ano 999 para o ano 1000, se repetiu quando a peste negra assolou a Europa medieval, no período da Guerra Fria, com os atentados de 11 de setembro, com o tsunami em 2004, no início do ano com as chuvas em Minas Gerais e agora com o coronavírus. 

Usar o Dilúvio, a destruição das cidades de Sodoma e Gomorra como exemplos de juízo de Deus realizado na história, não serve como salvo para correlacionarmos acontecimentos atuais, como a pandemia do coronavírus e dizer que esta seja também um juízo de Deus. Não temos nenhuma voz que nos autorize tal declaração. Não possuímos nenhuma espécie de revelação que diga isso. Se o texto bíblico não nos disse que o Dilúvio foi mais que uma inundação de proporções inimagináveis, mas sim um juízo de Deus, e que Sodoma e Gomorra não desapareceram do mapa por meio naturais, mas sim pela ira do criador, não teríamos como afirmar que tais acontecimentos foram o que foram pela simples evidência histórica. A revelação não está no acontecimento em si, mas naquilo que Deus diz sobre ele. Assim, a pandemia atual não é outra coisa senão uma pandemia, nada mais nada menos. 

Contudo, temos que enxergar os acontecimentos dos últimos meses à luz da escatologia bíblica do primeiro século. De acordo com o Novo Testamento, o fim será concluído e não iniciado. O fim já foi inaugurado com o aparecimento de Jesus e os acontecimentos que se desdobraram em sua vida, morte, ressurreição, ascensão e derramar do Espírito. Qualquer acontecimento agora está dentro de um fim já inaugurado, mas ainda não concluído. Logo, não deveríamos nos espantar com algo fora do comum como se isso fosse um sinal maior do que os narrados na carreira de Jesus. O mundo deixou de ser o mesmo quando da morte e ressurreição de Jesus. 

Esse isolamento social nos fez perceber como tínhamos algo ao nosso redor que na maioria das vezes não demos a devida atenção, a comunhão com os irmãos no culto público. Diversos líderes ficavam se questionando sobre a melhor estratégia para agregar jovens e adolescentes na igreja. Quanto mais inusitada, melhor. Quantas pessoas não perguntavam se haveria alguma programação diferente na igreja ao longo do mês, para com isso, resolver se participariam ou não. Muitos deixaram de estar nos cultos ao saberem que só haveria pregação, hinos, oração e comunhão. Há, comunhão! Algo que tanto ansiamos nesses últimos dias. Muitos desejariam estar reunidos em suas igrejas somente para orar ao lado do irmão, ouvir um sermão não esperando nada mais que a exposição do texto bíblico. Com a vinda dessa crise nos encontramos tão necessitados que não há espaço para desejos muito sofisticados. 

E o que falar de nossos idosos? Esquecidos e relegados ao simples anonimato. Em uma geração que valoriza unicamente o novo, acordamos para o valor dos velhos. Estamos preocupados com eles por sabermos que são os alvos mais frágeis dessa nova pandemia. Infelizmente, foi necessário um vírus para nos fazer entender que os idosos juntamente com crianças, adolescentes, jovens e adultos constituem uma única geração importante de uma igreja. 

Deus pode usar esse coronavírus como meio para chamar as pessoas a uma prestação de contas? Claro que sim. Teria provocado essa pandemia por meio de causas secundarias? Penso que seja improvável, mas não impossível, pelos motivos já expostos acima. O que pode acontecer, isso sim eu creio, é que Deus pode mobilizar sua igreja para que esta seja para sua geração aquilo que Jesus foi para Israel, um veículo através do qual o Deus criador agiu em meio ao caos trazendo ordem, paz, esperança e justiça. De nada adiantará sabermos se o coronavírus é ou não juízo divino se a igreja continuar letárgica em ser sal e luz do mundo.