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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

CRENDO EM CRENDICES

Cada dia me surpreendo com a criatividade de alguns líderes evangélicos em promover inúmeras inovações que acorrentam seus súditos. São campanhas, as mais diversas, e os não menos inusitados objetos estimuladores de fé. Este ressurgimento de uma crença medieval ensina que aquilo que desejamos obter deve ser proporcional ao tamanho de nossa fé. Contrariam abertamente o ensino bíblico que diz que uma simples fé do tamanho de um grão de mostarda já é suficiente para grandes feitos (Mt. 17.20).

Qualquer relato existente na Bíblia serve de pretexto para suas campanhas de fé. Se Abraão arregimentou 318 soldados para uma batalha, cria-se um corredor com 318 pastores para abençoar as pessoas. Não entendo qual a relação disto com o texto. Na verdade isto é algo de somenos importância para eles. A mais nova campanha (isto na época da produção deste post) de marketing – desculpem o engano – campanha de fé, é das doze portas abertas. Passa-se por doze portas que simbolizam os doze meses do ano, e com isto a pessoa terá o ano todo com suas portas abertas. Afinal de contas, Jesus mesmo não disse que Ele é a porta e que se deveria entrar por Ele? Em apocalipse não se encontra registrado que a porta que Ele abre ninguém fecha? A única possibilidade de se entender que alguma passagem bíblica serve de apoio para estas absurdas campanhas é uma má interpretação acompanhada de uma péssima aplicação do texto bíblico.

A participação nessas campanhas não é indicativo de fé, mas crendice. São práticas supersticiosas criadas para pessoas que não sabem mais o que é a fé bíblica. Creio que nosso Deus é o Deus dos impossíveis, mas não dos absurdos. Passar por doze portas numa igreja acontece o mesmo que passar debaixo de treze escadas numa sexta-feira treze à meia-noite numa encruzilhada cheia de gatos pretos, ABSOLUTAMENTE NADA. A Bíblia em nenhum lugar nos ensina a participar de algumas dessas campanhas. As bênçãos não são para serem alcançadas, mas sim recebidas como fruto da graça de Deus. Somente Cristo, e aquilo que ele efetuou na cruz do calvário são suficientes para abençoar uma pessoa, independente da participação de qualquer campanha nessas igrejas. O crente já é abençoado em Cristo com todas as bênçãos de acordo com Efésios 1.3 (cf. Fp. 4.19; At. 3.26).

Não posso esquecer da insistência que se faz nestes últimos dias da tão conhecida oferta de fé, ou semente como bem costumam chamar. A mais recente se acha no valor promocional de 8.500 reais. O bom desta oferta é que ela garante todas as bênçãos para o resto da vida da pessoa. Olhando por este lado ela sai até por preço de banana. Ha, ha, ha! Me chama a atenção, todavia, é que a demonstração de fé financeira que eles pedem, deve ser ofertada somente em seus programas, nunca na igreja local que as pessoas pertencem. Estranho né?

Não seria isto uma prática antiga semelhante às vendas de indulgencias do sistema católico romano da Idade Média? Ou seja, aquilo que Martinho Lutero combateu, tem sido a mola propulsora para o avanço de determinados arraias “evangélicos”. Para seus líderes e adeptos não há problema nenhum nisto, pois os resultados obtidos são mais importantes que a veracidade da ação. Eles se esquecem, ou nunca souberam, que resultado não deve ser visto como princípio validador de uma prática. O fato de ser eficaz não quer dizer que seja certo. 

Confesso que esses pregadores endinheirados falam em nome de deus, cujo nome é MAMOM, o deus DINHEIRO (Mt. 6. 24). Este é um deus presente na terra que havia sido expulso do templo por Jesus em Mc. 11.12-19, mas que infelizmente encontrou espaço nos corações de muitos líderes televisivos.

Finalizo minha exposição dizendo que não possuo, segundo eles, prerrogativas que validem minhas palavras. Afinal de contas, tenho somente seis anos de ministério, e a maioria deles mais de vinte de carreira – desculpem o lapso de memória – ministério. Até mesmo Jesus não poderia recrimina-los, pois como sabemos, seu ministério não durou mais que três anos aqui na terra.

Até onde isso nos levará? Que Deus tenha misericórdia de sua igreja. De um simples servo de Cristo, Anderson Queiroz.