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sábado, 10 de março de 2012

A DOUTRINA DA IGREJA

INTRODUÇÃO

Você sabia que o assunto igreja possui uma área específica de estudo na teologia? O campo da teologia que estuda a igreja é conhecido como Eclesiologia. Eclesiologia é a junção de duas palavras gregas: ekklesia – igreja e logos – estudo, tratado. Daí eclesiologia ser o estudo ou doutrina da igreja.

A igreja possui uma história de mais de 2000 anos. Foram muitos os acontecimentos ao longo deste período. De formulações ortodoxas (crença correta) passando por tentativas em se estabelecer heresias entre os fieis. Perseguição e martírio até o estabelecimento do cristianismo como religião oficial do império romano. Reforma protestante no séc. XVI aos movimentos pentecostais e neo-pentecostais dos nossos dias. Isto constitui no mínino, assuntos empolgantes para o nosso crescimento.

Esteja então preparado para começar hoje o estudo sobre a igreja de Jesus o Cristo. Ao aprender mais sobre ela você estará conhecendo um pouco mais sobre quem você é. Afinal de contas, a igreja é o conjunto de pessoas salvas por meio da fé em Jesus. 

A IGREJA NA HISTÓRIA
SURGIMENTO OU DESENVOLVIMENTO?
Quando surgiu a igreja? Essa é uma daquelas perguntas que os teólogos não possuem uma única resposta. Para alguns a igreja sempre existiu desde os tempos do Antigo Testamento. Já outros dizem que ela surgiu quando Jesus formou o grupo dos doze apóstolos. Alguns são de opinião que a igreja só passou a existir no dia de Pentecostes em At. 2. Mas afinal, quem está com a razão? Para respondermos este questionamento, temos que primeiro entender o significado da palavra “igreja”.

A palavra igreja vem do grego ekklesia, palavra formada de ek  e kaleo – tem o sentido de chamar para fora. Ekklesia era a convocação do exército para se reunir. Na antiguidade, desde o séc. V a.C. era a assembleia popular dos cidadãos na Grécia (Dicionário Internacional de Teologia, v. 1, p. 984). 

No Antigo Testamento, a palavra para a convocação ou assembleia do povo de Deus é kahal. A Septuaginta (tradução grega dos livros hebraicos do Antigo Testamento) traduz a palavra hebraica kahal – conclamar, na maioria das vezes por ekklesia – assembleia, congregação. Veja as seguintes referencias em Dt. 9.10; 10.4 18.16; Jz. 20.2; 1Rs. 8.14; Lv. 10.17; Nm. 1.16; Nm. 13.1 A ideia existente nos textos é sempre a mesma: assembleia, congregação, ou reunião, do hebraico kahal constitui o grupo de pessoas que foram chamadas/conclamadas por Deus para juntos ouvirem Sua Palavra. Não é tanto uma simples reunião, mas, pelo contrário, é o agrupamento como resposta ao chamado divino para fazer sua Vontade.

No Novo Testamento, a palavra ekklesia é usada como referência ao conjunto de pessoas que foram salvas e professam sua fé em Jesus Cristo. Neste sentido, ekklesia/igreja pode ter dois significados: um universal e outro local. A igreja em sentido universal é o conjunto de todas as pessoas salvas por Jesus independente de época ou lugar. Mt. 16.18; Ef. 1.22,23; 4.4; 5.23 são exemplos da igreja em sua natureza universal. O sentido local do termo igreja diz respeito aquele grupo de pessoas de determinada localidade que se reúne para confessar Jesus Cristo como Senhor (At. 11.26; 1Co 1.2; Gl. 1.2).

Com isto em mente podemos dizer que todas as respostas relacionadas acima em certo sentido estão certas. Se entendermos que a igreja é o povo de Deus e no Antigo Testamento Israel era este povo, assim Deus sempre teve um povo, logo ele sempre teve uma igreja, ekklesia/assembleia. Por outro lado, se igreja é um grupo de pessoas unidas em torno de Cristo, e os apóstolos foram chamados para estarem com Jesus (cf. Mc. 6.30,31), um dos elementos de uma igreja também ali se fazia presente. Mas se compreendemos que a igreja é o conjunto de pessoas salvas onde o Espírito Santo faz morada e que professam sua fé na ressureição de Jesus, então ela surgiu somente no dia de Pentecostes (cf. At. 2. 29-36).

Podemos assim “dizer que a fundação e o estabelecimento da Igreja foi um processo gradual e progressivo, e não um momento único na história” (Manual do Pastor e da Igreja, p. 15).

FIGURAS BÍBLICAS DA IGREJA
A Bíblia está cheia de figuras que expressam uma realidade particular da igreja. Estaremos analisando, no entanto, três destas figuras. Vejamos: 

CORPO DE CRISTO
Para o apóstolo Paulo, a igreja é o corpo de Cristo aqui na terra. Isto não deve ser entendido como se a igreja fosse fisicamente a extensão de seu corpo no mundo. Pelo fato de Cristo se fazer presente entre os seus discípulos (Mt. 18.20; 28.20) e dentro deles também (Jo. 14.23; Rm. 8.9,10; Gl. 2.20; Cl.1.27) nada mais natural a ideia que a igreja seja o seu corpo. Mesmo assim, não podemos chegar ao ponto de confundir a igreja com Cristo. Ele é o Senhor da igreja (cf. Ef. 5.23b,24a).  

Este conceito de igreja como corpo de Cristo (1Co. 10.17;12.12,13,27; Ef. 4.4,12; Cl.1.24) é uma analogia frequente no pensamento do apóstolo Paulo. Com ela aprendemos que a presença de Cristo não é um privilégio de alguns, mas de todos que estão Nele unidos. Não há variação de valor entre os irmãos na igreja. Cada um constitui um membro no corpo de Cristo, logo, o que importa não é sua posição no corpo (1Co. 12.14-26) mas o fato de que ele está unido ao corpo de Cristo e nele flui a vida do Salvador.

A figura da igreja como o corpo de Cristo também é uma forma de a Bíblia nos ensinar que o ideal de Deus para seu povo não é o isolamento. O fato de Cristo habitar no salvo é o que o impulsiona a viver uma vida em comunidade, a igreja. Assim, somos igreja somente quando estamos unidos. Esta união é mais uma questão de princípio que localidade. Isto porque podemos nos reunir e ainda assim nos encontrarmos divididos. Basta a leitura de 1Co. 1.10-13 para constatarmos que a igreja deve estar unida integralmente e não em facções. Logo, da perspectiva bíblica, não há esta ideia de unidade somente com um grupo específico da igreja. Quando isto ocorre, é caracterizado como tentativa de se dividir o corpo de Cristo (cf. 1Co. 1.13a). 

Outro texto que descreve a igreja como corpo de Cristo, mas com uma diferença em relação ao texto de 1Co. 12 é Ef. 1.22,23;4.15;5.23; Cl. 1.18a; 2.19. Em 1Co. 12 todo o corpo humano é visto como figura para a igreja (cf. 1Co. 12.14-20). Já em Ef. e Cl. Cristo é visto como o cabeça da igreja e esta o seu corpo. Isto serve para ressaltar que o único Senhor da igreja é Jesus Cristo. Ele é o seu dono. Nenhuma outra autoridade pode estar acima de Cristo na igreja. 

Um dos princípios batistas é ter Cristo como Senhor. “A suprema fonte de autoridade é o Senhor Jesus Cristo, e toda a esfera da vida cristã está sujeita a sua soberania”. (Em Que Creem os Batistas, Série Documentos Batistas, JUERP, p. 13.). Da mesma forma, o estatuto de nossa igreja no cap. I, art. 2º diz: “A igreja reconhece a Jesus Cristo como seu único Salvador e Senhor...”. Não há nenhum outro Senhor na igreja senão Jesus.

POVO DE DEUS
A igreja também é vista como sendo o povo de Deus. Em 1Co. 6.16; 1Pe. 2.9,10 encontram-se presente este pensamento. Assim como Israel só se tornou povo de Deus mediante a vontade soberana do SENHOR, a igreja é o povo de Deus por ter sido por Ele escolhida (1Pe. 1.1,2). Deus escolheu a igreja assim como escolheu Israel no Antigo Testamento.


Se Israel tinha a responsabilidade de manter uma conduta diferenciada diante das outras nações ( Dt. 12.30; 18.9-13), não menos exigência se requer da igreja enquanto povo de Deus  (2Co. 6.14-18; Ef. 5.3-7).  

TEMPLO DO ESPÍRITO SANTO
Outra forma de se ver a igreja é encará-la como o Templo do Espírito. Se pelo fato de Cristo habitar no crente a igreja é o seu corpo, o mesmo se dá com O Espírito Santo. Segundo as Escrituras, o responsável pelo novo nascimento é o Espírito Santo (Jo. 3.1-8; Tt. 3.4-6). Quando isto ocorre, a pessoa se torna o templo do Espírito (1Co. 3.16,17; 6.19).

O Espírito Santo é o responsável pela distribuição dos dons na igreja (1Co. 12.7-11). Não há uma única pessoa na igreja com todos os dons, muito menos algum crente que não tenha sequer um dom, pois o Espírito Santo os distribui “individualmente, a cada um, como quer” (1Co. 12.11b, NVI). Cabe ao Espírito Santo o derramamento dos dons na igreja.

Não é somente através do exercício dos dons na igreja que a identificamos como o Templo do Espírito Santo. Faz-se necessário a presença dos frutos do Espírito (Gl. 5.22-25). Enquanto os dons revelam a ação do Espírito Santo na igreja, os frutos, por sua vez, demonstram O Seu caráter presente na vida dos crentes. São estes frutos que devem determinar o exercício dos dons na igreja (1Co. 13.1-3; 14.1).

CONCLUSÃO
Aprendemos com este primeiro estudo que a igreja foi um processo que teve início com o próprio Deus. Embora seja constituída por pessoas, a igreja é na verdade, um milagre. Ela é o corpo de Cristo porque Ele habita nos crentes, sendo esta presença identificada na igreja. 

A igreja também é o povo de Deus. Assim como Deus formou o povo de Israel no Antigo Testamento, Ele é quem tornou realidade a igreja no dia de Pentecostes (At. 2). Sendo a igreja o Templo do Espírito, ela é identificada também em atitudes espirituais (Jo. 4.24; Gl. 5.16,17). Por mais belas que sejam nossas apresentações, se não forem feitas no Espírito Santo, serão realizações da carne – nossa natureza corrompida.