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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

FÉ E RAZÃO

Qual a relação existente entre fé e razão? Constituiriam verdades opostas entre si que não seria possível uma conciliação? Estes e outros questionamentos afins percorrem a mente de vários pensadores, sejam eles cristãos ou não.

Santo Agostinho (354-432) que é considerado por muitos o maior teólogo da Igreja pós – apostólica, soube unir a tradição cristã com a razão de tal forma que estabeleceu um sistema teológico que iria influenciar a Igreja por mil anos. Sua célebre frase: “intellige ut credas, crede ut inteligan” (compreender para crer, crê para compreender) expressa a síntese de seu sistema. Fé e razão seriam aliadas para um correto entendimento da realidade Divina.

Aqueles que tentavam contrariar a idéia de um Deus eterno e imutável, perguntavam o que Ele estava fazendo antes de criar a terra. Santo Agostinho afirmava que esta pergunta é contraditória, pois não poderia haver um “antes” quando nada existia, pois Deus criou o tempo ao criar as coisas. Para ele, esta pergunta pressupõe o tempo antes do próprio surgimento do tempo. Por isso o teólogo patrístico afirmava: “Mundus non in tempore, sed cum tempore, factus est” (O mundo foi feito não no tempo, mas com o tempo).

Na Idade Média um personagem que se destacou na história unificando fé e razão é Anselmo de Cantuária (1033-1109). Ele tentou provar a existência de Deus formulando o argumento ontológico. Anselmo tentou admitir a realidade objetiva de Deus através de uma verdade subjetiva, idéia. Deus seria, segundo Anselmo, o Ser perfeito do qual não se pode pensar nada maior. Ele necessariamente deve existir, pois se não existisse, outro ser que existisse nas mesmas dimensões seria por conseqüência maior do que o Deus intuído. Para que Deus seja perfeito ele precisa existir, logo, se lhe faltar o atributo da existência Ele não seria perfeito. Entretanto, Immanuel Kant (1724-1804) era cético sobre a possibilidade de a razão provar a existência de Deus. Para Kant, a existência de Deus é racionalmente admitida pela moral, pois “é absolutamente necessário persuadir-se da existência de Deus; mas não é necessário demonstrar que Deus existe”.

Embora no início a razão estivesse subordinada aos pressupostos dogmáticos, a partir do século 17 o que se vê é uma inversão. Agora, a fé deveria passar pelo crivo da razão. Um nome que expressa bem este período é o filosofo Bento Espinosa (1632-1677).

Para Espinosa, existe somente uma única substância, e ela é Deus. Deus seria o infinito causador dos efeitos finitos. Espinosa relaciona a idéia de Deus à sua noção de substância. Para o filósofo, substância é aquilo que existe em si e para si mesmo, independente de qualquer outra coisa para ser compreendido. Uma substância não pode ter uma causa diferente dela nem tão pouco não ter causa. Este é um axioma de Espinosa. Não obstante, ele admite que somente é possível conhecer algo através da causa do objeto cognoscível. Logo, o corolário espinosano é: Uma substância é a causa de si mesma.

Deus como substância é infinito, não podendo ser limitado por nada exterior a ele. Afora Deus, não há nenhuma substância. Com isto, não haveria lugar para uma idéia de um Deus pessoal, pois Ele seria a totalidade de tudo o que há.

O pai da teologia moderna, Friedrich Schleiermacher (1768-1834), deseja preservar a credibilidade da crença religiosa contra os ataques dos filósofos iluministas. Nesse período a Bíblia não era mais vista como a revelação de Deus, antes, era um conglomerado de história e mitologia.

Schleiermacher, procurando livrar a verdade religiosa das investidas racionalistas, propõe uma nova visão do conteúdo religioso. Para ele, o que caracteriza a religião é o “sentimento de dependência absoluta”. Este sentimento não deve ser analisado sob a ótica racionalista. Os atributos de Deus não passam de descrições do sentimento religioso existente no homem, não sendo, desta forma, verdades ontológicas do Divino. A teologia de Schleiermacher se constitui em uma antropologia absoluta. Sua filosofia é imanentista, e o homem, segundo seu pensamento, é a encarnação finita do Todo, uma das formas de Schleiermacher denominar Deus.

Rudolf Bultmann (1884-1976) inicia seu controvertido programa de “demitologização” do Novo Testamento, propondo uma interpretação existencialista dos documentos neotestamentarios. Bultmann entende que o Novo Testamento é formado por um entendimento mitológico do universo. Para que o homem moderno entenda sua mensagem, faz-se necessário escoimar o Novo Testamento de sua concepção ultrapassada, tanto do universo quanto dos acontecimentos salvíficos.

O renomado teólogo do século XX, Paul Tillich (1886-1965) uniu teologia e filosofia preservando suas particularidades. Ele criou o método de correlação, onde as perguntas existenciais eram respondidas com base nos símbolos do cristianismo. Filosofia e teologia não seriam conflitantes, pois Tillich entende que os dois campos do saber não possuem uma mesma base comum. Teologia só entraria em conflito com a própria teologia, assim como a filosofia só pode entrar em conflito com ela mesma.

A fé pode caminhar muito bem com a razão, pois a fé só é possível em um ser racional. Augustus Hopkins Strong (1839-1921), no primeiro tomo de sua teologia sistemática afirma que as “Escrituras apelam para a razão, em seu amplo sentido, incluindo o poder da mente de reconhecer Deus e as relações morais.” O problema seria o racionalismo, pois este “sustenta que a razão é a fonte ultima de toda verdade religiosa enquanto a Escritura é a autoridade só naquilo que suas revelações concordam com as conclusões prévias da razão ou pode ser demonstrada racionalmente.”

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

UM CRISTÃO CONVÍCTO DO SEU ATEISMO

Sou cristão pertencente a denominação Batista. Creio em Deus como o Soberano de todo o universo. Sua soberania, no entanto, não é a de um tirano, mas a de um Pai que em sua própria natureza é AMOR. Entendo pela Bíblia que Ele pune os pecados, mas não o vejo como um espião, que secretamente só está interessado em minhas falhas. Creio em suas bênçãos, pelo fato de ser Nele abençoado. Tenho fé no seu retorno da forma que se encontra revelado na Bíblia, não como uma representação hollywoodiana digna de um Óscar. Enfim, sou um cristão protestante.

Pertenço a história recriada pelos reformadores, iniciada pelos Pais da Igreja e instituída por Cristo e seus apóstolos. Mas me recuso a fazer parte deste novo cristianismo, melhor dizendo, pseudo-cristianismo surgido nas últimas décadas. Declaro, com isto, que embora seja cristão, sou ateu deste falso cristianismo dos dias atuais.

Não creio nesse deus que se assemelha mais a uma caixa registradora, onde os consumidores vão receber seu troco (bênção) pela compra efetuada. Neste cristianismo Deus não abençoa por sua Graça, Ele simplesmente não faz mais do que sua obrigação ao entregar o que é de direito do consumidor, desculpem, do fiel. Ou seria fiel consumidor?

Recuso-me a acreditar em um cristianismo, que embora existindo no século XXI vive com práticas características da Idade Média. Eis algumas: corredor dos 318, ou dos 70, rosa ungida, troca do anjo da guarda, oração sobre o copo com água, banho da trindade, venda de colunas em miniatura, martelinhos de poder e outras práticas afins são algumas que podem ser encontradas no extenso catálogo deste falso misticismo. Diga-se de passagem, bastante criativo.

Não há lugar em minha razão (e somente por causa dela posso ter fé em Deus) para concordar que um objeto possa servir como um meio de graça somente porque recebeu a oração de uma pessoa especial. Usa-se o óleo para ungir não somente doentes como se encontra em Tiago 5.14, mas também para consagrar novos decididos. Mas se ainda usam o óleo com base no pressuposto bíblico porque não aplicam o vinho como recurso terapêutico para quem sofre de doenças de estômago como ensina o apóstolo Paulo em Timóteo 5.23?

Como acreditar em um cristianismo onde pregadores deixam de ser imitadores de Cristo, para se tornarem em duplicatas de seus líderes. Nestes proclamadores não se ouvi a voz do Senhor, escuta-se a insuportável representação teatral dos seus senhores feudais. Deus não precisa mais ser onipresente nestas igrejas, pois os seus líderes já deram um jeito de estarem em todas elas ao mesmo tempo por meio das suas marionetes.

Sou crente o bastante para não acreditar nestes grandes HOMENS de deus. Eles deveriam ser corajosos o suficiente para declararem aos seus súditos o tipo de oração que existe dentro deles: "Deus, estou fazendo a minha vontade na terra, assim como o senhor faz a sua no céu." Estes grandes HOMENS não podem ser seres humanos. Não consigo vê-los também como super-homens. Só me resta admitir que são sub-humanos. Perderam sua humanidade dada por Deus, e se revestiram de uma feita por eles mesmos. O docetismo é a melhor descrição para essas pessoas. Aparentam ser aquilo que na verdade não são.

Termino este meu manifesto agradecendo a Deus pelo meu ateísmo cristão.


sexta-feira, 10 de julho de 2009

CREIO PARA COMPREENDER

Esta frase pertence a Santo Agostinho, considerado por muitos o maior teólogo da Igreja depois do apóstolo Paulo. Como pensador, ele partia do pressuposto que as assertivas bíblicas devem ser aceitas enquanto verdades para posteriormente serem analisadas pela razão. A fé, nesta perspectiva, não é o oposto da razão, pois o que não é objeto de uma possível análise racional não se constitui em artigo de fé. O renomado teólogo batista norte americano, A.H.Strong, do século XIX, no primeiro tomo de sua Teologia Sistemática concorda com o pensador patrístico ao afirmar: “A fé é conhecimento e o mais elevado tipo de conhecimento”.

OS PAIS DA IGREJA

Logo após o fim da era apostólica, surge no contexto eclesiástico um grupo de pensadores ou teólogos que iriam influenciar a história da Igreja. Eles foram os primeiros defensores do legado doutrinário deixado pelos apóstolos. O período patrístico, termo que alude todos os personagens que receberam o título de pai da Igreja, dá-se início no fim do I século e vai até meados do século VIII. Os teólogos deste período discutiam assuntos que envolviam a fé de suas comunidades religiosas. A importância dos sacramentos ou ordenanças, as duas naturezas de Cristo, o entendimento da relação existente entre Deus Pai, Filho e Espírito Santo, e afins, eram constantemente abordados em seus escritos e sermões.
No Ocidente, o pai da Igreja que mais influenciou o cristianismo foi Santo Agostinho (354-430). Sua teologia durou aproximadamente 1000 anos. Já no Oriente, o Pai da Igreja, não porque tenha recebido este título, mas por sua importância teológica foi Orígenes (185-254), sendo um prolífico e polêmico escritor.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

MÚSICA NO CULTO OU CULTO À MÚSICA?

A música está presente na vida de todas as pessoas e tem o poder de falar ao coração mais empedernido bem como chamar a atenção da mente mais dispersa. Sua capacidade de evocar no presente sentimentos passados, lhe confere o status hegemônico de expressão artística que melhor revela a realidade humana. A Bíblia atribui um imenso valor a música como um meio da criatura reverenciar seu Criador. Lemos no registro sagrado o cântico de Maria (Lc 1.46-55), de Zacarias (Lc 1.67-79), o louvor dos anjos quando do nascimento do Cristo (Lc 2.13-14), o cântico de Simeão (Lc 2.29-32) e muitos outros. Até mesmo o filósofo pessimista alemão do século XVIII, Arthur Schopenhauer, via na música a possibilidade de satisfação interior em um mundo tão deprimente.
Um questionamento comum é -“existe diferença entre música e louvor?”- Alguns pretendem, com esta pergunta, criar uma dicotomia, uma divisão musical. A música seria, para alguns, uma expressão artística secular e o louvor, para outros, uma declaração de adoração a Deus. Não obstante, podemos ver esta separação por outro prisma: o louvor na Igreja, nada mais é que uma devoção a Deus em forma de música.
Percebe-se que a música cristã encontra-se no meio de um duelo Titânico: de um lado os ultra-tradicionalistas, do outro os ultra-revolucionários. Esta batalha é travada para se obter a resposta de uma única pergunta: qual o estilo musical que deve ser usado no culto? Os dois lados arrolam para si uma resposta absoluta e opressora.
Os ultra-tradicionalistas e os ultra-revolucionários criaram, ao se digladiarem, o segundo bezerro de ouro, melhor falando, um bezerro musical, e assim, caíram no pecado da musicolatria. Em sua batalha abandonaram a adoração a Deus através da música para reverenciarem seu próprio estilo musical. A música deixou de ser um meio de adoração para se converter ela mesma em objeto adorado. “Onde não se canta ao Senhor, canta-se à sua própria honra ou à honra da música. E o cântico novo torna-se cântico idólatra.” (Dietrich Bonhoeffer).
É preciso saber acima de tudo que a música no culto deve revelar a realidade doutrinária existente na Bíblia. Os cânticos usados pela igreja do primeiro século, e que foram registrados pelo apóstolo Paulo corroboram esta afirmativa (Fp 2.6-11; Cl 1.15-20; 1Tm 3.16). Esses louvores expressam uma beleza poética na mesma proporção do seu valor doutrinário. O mesmo não se pode falar de alguns dos atuais cânticos produzidos por supostos compositores inspirados. Não existe música evangélica inspirada, ao menos, não no sentido que atribuímos este termo a revelação bíblica. Logo, nenhum cantor evangélico tem o direito de atribuir verdade a sua música pelo simples fato de ter sido por ele composta. Os cânticos devem passar pelo crivo dos padrões bíblico-normativos.
Por outro lado, não podemos negligenciar os princípios denominacionais que uma igreja possui quando usa seus cânticos no culto. Como membro de uma Igreja Batista tradicional, participo uma história de quatrocentos anos que não pode ser negada. Portanto, o teor doutrinário dos louvores deve condizer com a realidade pregada e ensinada nos púlpitos batistas. Nossos cânticos precisam dialogar com a fé do passado, atualizando a mensagem comunicada ao entendimento do homem do século XXI.

Gênesis 3


O relato da queda registrado em Gênesis 3 constitui uma das passagens mais fascinantes de toda a Bíblia. O fascínio do texto, entretanto, é acompanhado por uma intrigante pergunta: seria a descrição literal de um fato ocorrido no tempo? A pergunta, por outro lado, não deve ser levada para o âmbito da inspiração bíblica. A narrativa de Gênesis 3 não se torna mais inspirada se for literal, da mesma forma que não perderá sua inspiração divina se for vista como simbólica. A mensagem da Palavra de Deus transcende as amarras de uma única espécie de literatura.
Estaremos propondo nesta breve exposição uma visão do relato da queda em uma perspectiva simbólica. Esta leitura de Gênesis 3 deve ser vista como uma possibilidade de se extrair a verdade do texto, sem a pretensão de ser a única verdade possível. Deve-se ressaltar que acreditamos na queda da humanidade em um momento na história com o primeiro casal, não obstante afirmarmos que o relato seja simbólico. 
O autor tem a preocupação de ressaltar que a tentação foi iniciativa de uma criatura, não de algum deus rival (Gn 3.1). Ele localiza o tentador no espaço e no tempo descrevendo-o como a serpente. Isto é uma figura de linguagem para se referir ao diabo, pois em apocalipse ele é visualizado como “a antiga serpente” (Ap 12.9; 20.2). Nota-se que nestas duas passagens o diabo é visto também como o “dragão”. Até mesmo Deus em sua onisciência (Sl 139) é dramatizado no texto procurando o homem pecador (Gn 3.9).  
A possibilidade de se obter vida eterna e conhecimento ilimitado é representada no texto simbolicamente pelo surgimento de duas árvores (Gn 3.5,6,22). A liberdade é marcada por um angustiante dilema: a vida eterna ou o conhecimento ilimitado sem vida? As árvores representam ausência de movimento, imparcialidade, cabendo ao próprio homem o aproximar-se de uma levando-o necessariamente ao afastamento da outra.
A serpente faz uma pergunta improvável para a mulher: “Foi isto mesmo que Deus disse: ‘Não comam de nenhum fruto das arvores do jardim’?” (Gn 3.2). Como Deus poderia ter dito isto e ao mesmo tempo desejar a sobrevivência do primeiro casal na terra? Logo, o questionamento não visa o entendimento, mas semear a semente da dúvida no coração da mulher. Infelizmente, a resposta dada por Eva não expressa a realidade da ordem divina. Deus não proibiu que se comesse da árvore que estava no meio do jardim (Gn 3.2,3). As duas árvores achavam-se centralizadas, somente uma sendo proibida (Gn 2.9,16). Sem nenhuma explicação óbvia, Eva se esquece da existência da árvore da vida.   
A crença que a mulher nutria pelo mandamento de Deus é anulada pela serpente com: “Certamente não morrerão! [...] seus olhos se abrirão, e vocês, como Deus, serão conhecedores do bem e do mal” (Gn 3.4,5). A certeza enganadora da serpente acompanha a ausência de uma prova concreta para o mandamento divino. A garantia de que não morreriam, junto à possibilidade de ser como Deus, faz da violação da ordem divina um risco aceitável para Eva.  
Ao assimilar o engodo da serpente, a percepção que Eva tem do mundo em sua volta modifica-se. A árvore, agora, é agradável ao paladar, atraente aos olhos e desejável para se obter discernimento (Gn 3.6). Isto pressupõe uma queda antes da queda (Mt 5.21-22,27). A realidade diante dos nossos olhos é o produto da condição interior do nosso ser (Tt 1.15). “Nós não queremos uma coisa porque encontramos motivo para ela, encontramos motivo para ela porque nós a queremos.” (Arthur Schopenhauer).  Para o homem, não foi suficiente ser a imagem e semelhança de Deus (Gn 1.27), ele quer, com um simples ato, ser “como Deus”. Deseja ser divino através de uma atitude demônica. Procura realizar-se, obter poder e conhecer em si mesmo. Ele não quer mais algo derivado, almeja ser a fonte de tudo. Ele “se converte em centro de si mesmo e de seu mundo” (Tillich).
Desejando ser o que não podia, tornou-se aquilo que não queria. 

Deus, Um Discurso


Deus, como falar Dele? Qual seria a melhor pergunta: o que é Ele? Quem Ele é? Ele é a Pessoa que está além de todas as pessoas. O Absoluto que está além de todo relativismo. O Eterno que está além de toda efemeridade. O Existente que está além de toda existência.

Deus tem sido atacado por uma avalanche de argumentos ateístas. Tenta-se provar que Ele não existe. Mas como provar a Sua não existência? O não-ser simplesmente não existe. Falar da não existência é atribuir-lhe uma existência que se tenta provar o contrário. É difícil falar do nada, pois não existe nada para se falar. Se Deus não existe, então, como falar Dele? Os argumentos ateístas anulam a existência de um deus criado ao longo do tempo. Este deus pode, sim, ser levado a não existência, pois ele mesmo não existe objetivamente. Este é um deus acreditado na mente. Ele existe porque há uma mente para apreendê-lo. Esta mesma mente que acredita, pode não acreditar.

Quando pensamos em Deus, estamos intuindo Um Ser, ou O Ser, que está além daquele que pensa. Deus é visto como estando diante de um sujeito pensante. Alguém que está distante, e pode ser encontrado por meio de um processo de abstração mental. É aí que reside todo o problema. Deus não deve ser visto como um objeto a ser encontrado por um observador. Ele não é como uma montanha muito difícil de se escalar, e depois que se chega ao cume alguém desce para ser considerado um vencedor.

O insensato do salmo 14, onde ele afirma que Deus não existe, estava tirando uma conclusão de uma análise feita previamente. Para ele, o mundo em sua volta não exigia a crença na Divindade. Embora a Bíblia nos afirme que a própria natureza implica a realidade de Deus (Sl. 19; At. 14.15-17; 17.23-28; Rm. 1.19-23), diversos observadores podem chegar a uma infinidade de conclusões: teísmo (crença em Deus), deísmo (idéia que Deus não atua na natureza) ou politeismo (crença na existência em vários deuses). Assim, afirmamos que o problema não se encontra na criação observada, mas na inferência do observador.

Então, como encontrar Deus realmente? Encontra-se Deus quando se é achado por Ele. Deus é O Existente que em mim está além de mim. Deus nunca existirá para mim se primeiro Ele não existir em mim. Deus não é para ser visto, Ele é para ser vivido. Se eu procuro Deus fora é porque eu fujo Dele em meu ser pessoal. Ninguém consegue fugir de Deus geograficamente, pois Ele está em todos os lugares ao mesmo tempo (Sl. 139; Jr. 23.23-24). É impossível Deus não estar no mundo, embora seja possível encontrar-se no mundo sem Deus (Ef. 2.12). Deus só é conhecido quando se é conhecido por Ele (Gl. 4.8-9).

Entretanto, como isto tudo acontece? Vamos então, analisar o texto de João 3.1-9. Nicodemos demonstra ser uma pessoa capaz de reconhecer a veracidade do ministério de Cristo Jesus (v. 2). Em resposta, Jesus revela que o verdadeiro conhecimento de Deus ocorre quando o homem se conscientiza de sua real condição existencial. Sem o novo nascimento, o homem encontra-se fora do Reino de Deus (v. 3,5).

Para que aja conhecimento é necessário que exista primeiro um sujeito que possa conhecer. Nicodemos queria conhecer sem existir para o Reino de Deus. Jesus afirma que isto é impossível. É preciso nascer de novo. Não escolhemos nascer, simplesmente nascemos. O novo nascimento é o  surgir de uma nova pessoa. Este novo ser encontra-se apto para apreender as verdades eternas em Jesus Cristo.

Os versículos 7 e 8 expressam a realidade de alguém que se encontra em Deus. É o viver incerto existente em uma certeza segura. É ser conduzido pelo vento (Espírito). Não se sabe que direção o vento tomará no futuro, mas independente disto o vento continuará guiando-o. Para o homem que vive esta realidade, não há prova de certeza, mas vivi-se Deus em meio às incertezas da vida.