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terça-feira, 3 de julho de 2018

JESUS, MAIS QUE UM HOMEM

Para muitas pessoas Jesus foi um grande mestre religioso que nos brindou com um conhecimento de Deus ao mesmo tempo desafiador e admirável. Mas ele não foi um grande mestre? As pessoas não o chamavam assim? É claro que Jesus foi um mestre religioso. O problema é vê-lo somente como um mestre. Muitos conseguem lidar com um mestre que morreu, mas não com o Deus que se fez Homem e que governa o mundo criado. Outros até admitem que Jesus era divino, mas não plenamente igual a Deus Pai. 

Recentemente assisti um debate entre jornalistas e um professor de religião com o seguinte tema: Jesus: Vida, Morte e Legado. Um olhar atento logo perceberá que o tema esconde a visão de um Jesus simplesmente humano. Vida, morte e legado é o que falamos de qualquer grande líder após sua morte. Para ser mais correto, o título do debate deveria ser: Jesus: Vida, Morte e Ressurreição. A ressurreição de Jesus prova que ele não foi somente um grande mestre religioso, mas que verdadeiramente era o Filho de Deus, e que ao ressuscitar, tudo o que ele fez e disse era realmente verdade, ou seja, ele era mais que um simples ser humano, era verdadeiramente o Deus que se fez homem. Para aqueles que pensam ser essa conclusão absurda, C. S. Lewis nos ensina que neste quesito ou é tudo ou nada: 

Estou tentando impedir que alguém repita a rematada tolice dita por muitos a seu respeito: “Estou disposto a aceitar Jesus como um grande mestre da moral, mas não aceito a sua afirmação de ser Deus.” Essa é a única coisa que não devemos dizer. Um homem que fosse somente um homem e dissesse as coisas que Jesus disse não seria um grande mestre da moral. Seria um lunático – no mesmo grau de alguém que pretendesse ser um ovo cozido – ou então o diabo em pessoa. Faça sua escolha. Ou esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou não passa de um louco ou coisa pior. 

Somos confrontados, então, com uma alternativa assustadora. Ou esse homem de quem estamos falando era (e é) o que dizia ser, ou era um lunático ou coisa pior. Ora, parece-me óbvio que ele não era nem um lunático nem um demônio; consequentemente, por mais estranho, assustador ou insólito que pareça, tenho de aceitar a ideia de que ele era, e é, Deus. Deus chegou sob forma humana no território ocupado pelo inimigo. (Cristianismo Puro e Simples, p. 69-71). 

Se Jesus estava errado em se comportar como se fosse o Deus encarnado, por qual razão deveríamos acreditar em seus ensinamentos? Se estava errado no mais importante e decisivo sobre si mesmo, porque deveria ter acertado no mais importante e decisivo sobre nós? Bono Vox, da banda U2, percebeu essas mesmas implicações em uma conversa com um jornalista: 

Não, para mim não é mirabolante. Veja, a resposta secular para a história de Cristo é sempre a mesma: ele foi um grande profeta, sem dúvida um sujeito interessante, que tinha muito a dizer seguindo alinha de outros grandes profetas, como Elias, Maomé, Buda ou Confúcio. Na verdade, porém, Cristo não permite isso. Ele não deixa você se safar tão fácil. Cristo diz: “Não estou dizendo que sou um profeta, mas que ‘sou o Messias’. Estou dizendo que ‘sou Deus encarnado’”. E o pessoal responde: “Não, por favor, seja apenas um profeta. De um profeta damos conta. [...] Não é piada. Para mim, mirabolante é a ideia de que todo o curso da civilização de mais da metade do mundo teve seu destino transformado e virado pelo avesso por causa de um maluco... (Citado por Timothy Keller em A Fé na Era do Ceticismo, p. 259). 

Mas, e aqueles que veem Jesus como alguém divino, mas não como Deus plenamente? Lidaremos agora com a opinião de alguns religiosos e não de secularistas. Neste quesito os Testemunhas de Jeová surgem como representantes desse tipo de fé. Pode-se dizer que afirmar que Jesus é divino embora não plenamente Deus, como fazem as Testemunhas de Jeová, é o mesmo que tentar fazer uma omelete sem desejar quebrar os ovos. Esse Jesus se aproxima mais dos heróis semideuses dos mitos antigos que o Jesus retratado nas páginas do Novo Testamento. 

Em Biblioteca on-line da Torre de Vigia, acha-se o estudo Quem é Jesus Cristo? que serve muito bem como síntese desse pensamento. Como negação da doutrina da Trindade, lemos que “houve um tempo em que Deus estava sozinho”. Essa solidão teria chegado ao fim com a primeira criação de Deus, neste caso, Jesus. A base para isso seria os textos de Cl. 1.15 que fala de Jesus como “o primogênito da criação de Deus” e Ap. 3.14 “o princípio da criação de Deus”. Colossenses 1.15, no entanto, não quer dizer que Jesus foi o primeiro ser criado por Deus. No mundo antigo o primogênito era aquele que tinha o direito à herança do pai. Jesus como o primogênito quer dizer que ele tem direito legal sobre toda a criação de Deus. Tudo pertence a Jesus. Ele tem domínio sobre toda a criação. Esse é o sentido do texto. 

Apocalipse 3.14, por sua vez, não significa que Jesus foi criado no princípio. A palavra princípio usada é o grego arché, que significa fonte, origem. João quer dizer que Jesus é a fonte, a origem de todo o mundo criado. Ou seja, se diz no texto que tudo foi criado por meio dele, como bem atesta o evangelho de Jo. 1.3 e Cl. 1.16. As coisas existem por meio dele e para ele. Jo. 1.1 deixa bem claro que desde a eternidade o Verbo, Jesus, sempre esteve ao lado de Deus Pai, e isso por um motivo obvio que o próprio texto responde: ele mesmo era Deus. Se houve um tempo em que Deus Pai esteve sozinho, como afirma o estudo da Torre de Vigia, então não se pode dizer que sua natureza é amor (1Jo. 4.8). Para que haja amor é necessário no mínio a existência de duas pessoas, pois não se pode amar estando sozinho. 

Não se pode pensar que Jesus seja inferior a Deus Pai pelo simples fato ser denominado Filho de Deus. O estudioso em Novo Testamento Oscar Cullmann, diz que se alguém pergunta “se o Novo Testamento ensina a “divindade” de Cristo, deve-se pois, em princípio, responder afirmativamente...” (CULLMANN, 2008, p. 399). Sobre o conceito de Jesus como Filho de Deus, Cullmann de forma muito acertada diz que “... os adversários de Jesus perceberam, no emprego do título “Filho de Deus”, uma pretensão à igualdade com Deus, e que Jesus não os contradisse.” (CULLMANN, 2008, p. 392). 

Ao perguntar quem seria Jesus hoje, o estudo em questão diz: “Atualmente, Jesus não é nem homem nem Deus Todo-Poderoso. Ele é uma poderosa criatura espiritual, um Rei reinante.” No melhor dos cenários essa é uma declaração corajosa, e no pior, absurda. Se Jesus não é mais homem, então ele não pode ser o único mediador das pessoas. Se também não é Deus, tão pouco pode salvá-las ou mesmo ser adorado. Paulo diz claramente em 2Tm. 2.4 que o nosso mediador é o Jesus homem. Se ele não é Deus, textos como Jo. 1.1; 1.18; 20.28; Rm. 9.5; Tt. 2.13; 1Jo. 5.20, perdem o completo sentido. Deus não poderia conferir seu próprio Nome a Jesus se ele mesmo não fosse Deus, o Filho de Deus. É isso que Paulo diz que Deus fez em Fp. 2.10. “Por que este nome não pode ser sobrepujado por nenhum outro? Porque é o nome do próprio Deus...” (CULLMANN, 2008, p. 285). 

Negar que Jesus seja Deus é afirmar que sua adoração é ilegítima, uma idolatria. Contudo, encontramos no Novo Testamento que Jesus não criticou aqueles que o adoraram após sua ressurreição (Mt. 28,9,17. Jo. 20.28). Não se pode negar aquilo que o próprio Cristo permitiu. O escritor da carta aos Hebreus diz que todos os anjos devem adorar a Jesus por ser o Filho de Deus, o que implica sua igualdade com Deus Pai (Hb.1.6-10). No livro do Apocalipse, Jesus é retratado como o cordeiro que foi morto e ressuscitou, e em decorrência disso é adorado tanto no céu quanto na terra (Ap. 5.11-14). 

Levantar a hipótese de que Jesus era Deus foi o resultado das decisões e influência do imperador Constantino, bem como o uso do poder por parte da igreja em ascensão, não encontra o mínimo de comprovação histórica. Timothy Keller, em A Fé na Era do Ceticismo diz: 

Quanto a O Código Da Vince, todos sabem que a trama do livro e do filme é fictícia, mas muitos consideram plausível o cenário histórico que o autor, Dan Brown, afirma ser verídico. O livro mostra Constantino em 325 d.C. decretando a divindade de Jesus e suprimindo todas as provas de que ele era apenas um mestre humano. No entanto, mesmo um documento como a Epístola de Paulo aos Filipenses, que todos os historiadores garantem não datar de mais de vinte anos após a morte de Cristo, vemos que os cristãos adoravam Jesus como Deus (Fp. 2.10). A crença na divindade de Cristo fez parte desde o início da dinâmica do crescimento da igreja primitiva. (KELLER, 2015, p. 135).

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