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quarta-feira, 17 de julho de 2013

SÁBADO OU DOMINGO? PARTE II

Outro argumento usado pelos adventistas para consubstanciar a ideia da permanência da guarda do sábado é o texto de Mt. 24.20. Nesta passagem Jesus exorta os discípulos que orem para que os acontecimentos narrados nos versículos anteriores – referentes a destruição de Jerusalém – não ocorressem no dia de sábado. Como o livro de Mateus foi escrito em meados do ano 85 d.C., esta palavra confirmaria que o sábado ainda seria observado pelos discípulos. Na verdade, Jesus está simplesmente usando conceitos da piedade judaica para descrever a seriedade dos fatos. O texto prova somente que em alguns círculos da comunidade primitiva observava-se alguns preceitos da lei mosaica, - a igreja de Jerusalém é um exemplo (At. 15) – Mateus teria escrito seu evangelho para estes leitores. Em relação ao argumento adventista, devemos observar que o próprio texto diz que o Templo seria violado (Mt. 24.15), mas nem por isso se entende que os discípulos estariam oferecendo sacrifícios no Templo. A palavra de Cristo foi um alerta tanto para os cristãos quanto para os demais judeus. Se o raciocínio adventista estivesse certo, o que falar então de Mt. 17.24s? Mateus estaria dizendo com esta passagem que os discípulos ainda deveriam pagar o imposto do Templo? Isto seria impossível, pois o Templo havia sido destruído no ano 70 d.C., e como já falamos, o evangelho de Mateus foi escrito aproximadamente 15 anos despois de sua destruição. Assim, Mt. 24.20 não anula os demais texto do NT que deixam bem claro não ser mais necessário a observância do sábado (cf. Rm. 14.5,6; Gl. 4.10,11; Cl. 2.16).

O texto de Is. 66.22,23 é usado como texto comprobatório para se afirmar que o sábado será observado por toda a eternidade. Se é verdade que haverá uma eternidade de sábados semanais como dia de culto, deverá permanecer também as festas da lua nova que o texto fala. Isto contudo cria um problema com Ap. 21.23, onde diz que não haverá necessidade da luz do sol ou da lua na nova Jerusalém. Seria estranho uma festa da lua nova sem noite de lua ou mesmo um início de sábado sem o pôr do sol, pois como lemos em Ap. 21.25 não haverá noite. 

Esta passagem em questão deve ser compreendida com o início do livro de Isaias. Em Is. 1.13,14 o culto tinha se corrompido em uma liturgia destituída de qualquer sentimento pela santidade de Deus. Agora no texto de Is. 66.23,23, o profeta diz que isto seria restaurado – não o sábado ou as festas de lua nova em si – mas o que eles representam, o culto constante a Deus.

Os textos de At. 20.7; 1Co. 16.2 descrevem a prática inicial do uso do domingo como dia de culto. Em At. 20.7 o domingo foi reservado para a celebração da ceia do Senhor e pregação. Dizer que em 1Co. 16.2 não se trata de uma reunião religiosa, mas sim uma coleta para ser feita em casa, constitui uma visão grotesca dos escritos paulinos. A coleta fazia parte do culto (cf. 2Co. 8,9). Não somente em Corinto Paulo pediu para se fazer esta coleta aos domingos, mas também na Galácia (1Co. 16.1). A passagem como um todo deixa bem claro que a coleta não deveria ser feita somente em um domingo isolado, mas todos os domingos (1Co. 16.1-4).

Em Ap. 1.10 nós temos a expressão em grego kuriakos (do Senhor) que significa pertencente ao Senhor. Para eles isto diz respeito ao dia de sábado. Os cristãos primitivos, no entanto, fizeram uso dessa expressão aplicando ao domingo, que se entende como pertencendo ao Senhor Jesus. Tanto o Didache e Inácio, escritos pouco tempo depois do Apocalipse afirmam ser o domingo o dia de culto da igreja. Há indícios desta prática tanto em Clemente de Alexandria quanto em Tertuliano. Tanto o comentarista alemão Adolf Pohl, William Barclay, o comentário Moody, o Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, o Dicionário Bíblico Universal e a Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia de Champlin entendem que Ap. 1.10 é uma referência ao domingo. Isto se deve ao fato de tanto a ressurreição quanto as aparições de Cristo terem ocorrido no domingo. O próprio Pentecostes ocorreu no domingo, dia de reunião dos discípulos (At. 2.1).

Uma última palavra. Ao nos reunirmos no domingo, nós guardamos o princípio do quarto mandamento que é a separação de um dia em sete para o culto a Deus. É bem verdade que não há nenhum versículo no NT que ensine que o domingo teria substituído o dia de sábado. Verdade também que não existe um texto sequer no NT que ensine ser o sábado obrigatório para a igreja.

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