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sexta-feira, 27 de maio de 2016

O MAL DAS TRAGÉDIAS

Isso é algo que me preocupa, sempre que ouço ou leio declarações de cristãos que buscam explicar uma razão para as tragédias. Desde “Deus sabe o que faz” ao “não entendemos os planos de Deus”, percebo que tais asserções fazem parte da própria realidade do mal, revelando assim, sua absoluta maldade. Digo isso porque o mal das tragédias não está restrito somente à dor do evento ocorrido, mas se estende às próprias explicações do acontecimento trágico.

No imaginário evangélico popular, e até mesmo secular, acredita-se que tudo nesse mundo tem alguma explicação, uma razão de ser, um propósito. Para alguns, a origem explicativa de tais tragédias seria o destino cego, para outros, o Deus revelado na Bíblia. Será? Para os que me conhecem já é de se esperar que a resposta será negativa.

Não penso que a história encontra-se sem direção, ou que não tenha sentido. Não vejo, todavia, como sustentar uma visão de mundo fatalista, onde o que acontece deve necessariamente acontecer. Algumas coisas não deveriam acontecer, e ocorrem mesmo contra a vontade de Deus. Deus dirige a história apesar dos eventos contrários. Deus governa todas as coisas, mas nem por isso dirige, conduz cada ação que ocorre no tempo. Ele conhece tudo o que acontecerá, mas isso não quer dizer que determinou tudo o que acontece.

É bem verdade que nenhum dos propósitos de Deus podem ser frustrados (Jó 42.1). Isso é verdade. Não podemos, agora, absolutizar e afirmar que tudo no mundo acontece com algum propósito divino. Algumas coisas não possuem nenhum sentido ou propósito. Posso afirmar que tudo o que acontece no mundo e tenha relação direta com o caráter de Deus revelado em Jesus, possui um propósito. Mas se algo que acontece, destoa, mesmo que aparentemente do caráter de Deus, é necessária uma revelação objetiva (não o uso de algum texto bíblico) que afirme que o evento em questão coadune com a vontade de Deus, e isso não temos.

Diante da tragédia somos chamados a levar a presença de Deus no lugar onde o mundo sofre, e não fornecer explicações para o ocorrido. O Deus que não explica a tragédia é o mesmo que consola. Diante da dor o lamento é que deve ser ouvido e não alguma explicação para o possível sentido do evento trágico. O mal em si mesmo não faz sentido. “Como pés desfigurados, deformados demais para entrar em sapatos, esses acontecimentos opõem resistência a qualquer sentido positivo. Qualquer sentido positivo que possamos lhes emprestar parece privá-los de sua profunda hediondez”. Miroslav Volf.

Pelas razões expostas acima, em situações trágicas, como a morte de um bebê ou criança, por exemplo, ao invés de falarmos que Deus o levou, deveríamos afirmar que Deus o acolheu em seus braços.

3 comentários:

Simmon disse...

Muito bom! Assim também creio

Stenio disse...

Muito bem explicado! ��

Anônimo disse...

Muito bom texto. Simples. Claro. Objetivo. Elucidativo. Valeu.

Judson S. Lima