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terça-feira, 15 de outubro de 2013

"AQUI DEUS SE FAZ PRESENTE"?

Escrevo este artigo como um manifesto em decorrência de alguns crentes que pensam ser a presença de Deus uma espécie de monopólio de suas congregações. É costume nós ouvirmos, ou lermos – o que foi o meu caso – que o fato de ocorrerem algumas manifestações sobrenaturais em seus locais de culto, isto serve como indicativo da atuação divina. Estas pessoas confundem eventos sobrenaturais, e porque não dizer impessoais, com o Deus pessoal revelado na Bíblia.

Quando eles dizem que Deus está aqui – entendam que o “aqui” é na verdade lá – transmitem tanto uma ideia de um deus local – me recuso a usar o termo com d maiúsculo – quanto confundem a presença de um determinado líder como prova da presença divina. Esta teologia não é nada nova. É na verdade a teologia de Naamã. Este pensava que Deus se fazia presente somente no território israelita, daí a necessidade dele levar um pouco de terra para adorar ao SENHOR em outro território (2Rs. 5.15-17).

Outro equívoco é pensar que a realização de eventos miraculosos promovidos por seus líderes servem como demonstração do agir de Deus. Esta mentalidade moderna teria facilmente aprovado com sendo divino os feitos dos magos do Egito, quando do embate com Moisés (Ex. 7.10-12,20-22a). A Bíblia, por sua vez, nunca confunde realizações sobrenaturais com aprovação de conduta. Pode existir um sem o outro. Veja Mt. 7.21-23.

Este seguimento “evangélico” que parece ter o domínio da presença divina deveria buscar compreender a antiga verdade de que Deus embora não seja descontrolado, Ele é INCONTROLÁVEL. Esta é uma característica essencial de sua natureza insondável. Não são poucos os exemplos que temos de cultos que são realizados com propósitos pré-determinados, o que anula a incontrolabilidade de JAVÉ, nome de Deus no Antigo Testamento: culto de milagres, alguns com doenças específicas, celebrações onde se afirmam que ocorrerá uma espécie de novo pentecostes com pessoas batizadas com, no ou sob o Espírito Santo, cultos de libertação, restituição e afins. 

O exemplo maior da natureza incontrolável de Deus se acha no episódio de Ex. 19. Nesta teofania (manifestação de Deus), cujos elementos existentes se caracterizam muito bem com uma erupção vulcânica, serve como demonstração da natureza incontrolável de Javé. Como salientou Antonius Gunneweg, teólogo europeu que possui uma aguçada percepção das verdades bíblicas do Antigo Testamento, sobre a aparição de Deus no Sinai: “Não por último é também um Deus terrível, inacessível e perigoso, como o vulcão sobre o qual se manifesta”. [...] “Nenhum ser humano, porém, pode torná-lo controlável, nenhum mortal é capaz de domar um vulcão ou causar sua erupção, e muito menos dispor sobre um Deus que escolhe soberanamente esse monte como lugar de sua aparição”.

O culto que agrada a Deus não deve ser movido por nenhum propósito pré-determinado exceto o de que Seu Nome seja glorificado. Seu mover será sempre uma possibilidade, seja em cura ou conversão, mas nunca uma necessidade. O essencial não é saber que Deus está aqui, mas se eu estou Nele, pois Deus se faz presente em todos os lugares.

2 comentários:

Thiago Gonzaga disse...

Até as atividades religiosas se tornaram apelativas. Parece uma grande feira, onde quem chamar mais atenção venderá mais peixes. Acho que o grande número de denominações acaba transformando a religião em "mercado". Tudo muito confuso e longe de Deus.

Eis-me aqui disse...

Amigo,

continuo gostando muito das suas reflexões. Elas me ajudam a solidificar algumas verdades e a derreter falácias.