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sexta-feira, 5 de maio de 2017

FIM DO MUNDO?

Em posts anteriores afirmamos que Deus não descartará sua criação jogando-a num incinerador cósmico, mas que trará cura e restauração para a ordem criada. Mas como mantermos esse posicionamento diante do texto de 2Pe. 3.10-12? 

Em primeiro lugar, devemos concordar que a passagem é no mínimo complicada. Não admitir isso é não prestar atenção ao texto. Mas isso não quer dizer que ele esteja apontando para uma direção contrária ao ensino da Bíblia em geral ou mesmo da fé judaico-cristã do cristianismo nascente. Ainda que numa primeira leitura se tenha a impressão de que a criação aguarda sua aniquilação completa, podemos dizer, por mais estranho que pareça, que não era isso que Pedro tinha em mente. Admitir o contrário seria criar uma contradição com tudo o que Paulo ensinou, em especial Rm. 8.19-22. 

A primeira coisa para se entender esse texto tem a ver com a tradução. Algumas versões trazem no final do v. 10 “será queimada”, “consumida”. A NTLH diz que “a terra e tudo o que existe nela vão sumir”. Essa tradução é atestada por manuscritos do séc. V e VI. A NVI traz no final do v. 10 o termo “desnudada”. De acordo com manuscritos mais antigos, datados do séc. IV, o sinaíticus e o vaticanus a palavra original seria “descoberta”. Isso muda tudo. Na primeira, a ideia é de destruição completa, na segunda, de purificação. 

Levando em consideração os manuscritos mais antigos, Pedro nos diz que a criação e suas obras serão desnudas, descobertas, expostas de acordo com a antiga intenção do seu Criador. O fogo trará a verdade profunda da criação de Deus. A criação e suas obras quando provadas pelo fogo mostrarão sua real natureza. É algo semelhante ao que Pedro disse sobre a fé (1Pe. 1.7). O fogo em 2Pe. 3.10 é o julgamento moral que destruirá todo o mal. O paralelo aqui é com as águas do dilúvio (vs. 6,7). Não foi a terra em si que foi destruída no dilúvio, mas a impiedade e todos que a praticavam, o mundo conhecido da época de Noé. Pedro descreve uma espécie de limpeza moral completa de toda a ordem criada. O dilúvio trouxe uma limpeza parcial, o aparecimento de Jesus, por sua vez, trará uma limpeza completa. Podemos dizer que a linguagem pessoal do julgamento pelo fogo de Ml. 3.2,3, foi transposta para toda a criação. 

A restauração de uma catedral serve de comparação para entendermos o texto de 2Pe. 3.10: sujeira e outras pinturas acumuladas ao longo dos séculos encobrem as verdadeiras cores de uma catedral. Os restauradores removem meticulosamente essas camadas e descobrem a real beleza que estava escondida. A catedral, depois disso, mesmo tendo vários séculos de existência, pode ser vista como inteiramente nova. 

Queremos, com esse exemplo, dizer que não haverá uma abolição da criação, antes, o julgamento retirará as diversas camadas de corrupção acumuladas ao longo de milênios de história humana. Retiradas essas camadas, a beleza, justiça e bondade sem limites inundarão a criação, trazendo com isso, novos céus e nova terra (v. 13). Note que Pedro não espera depois do fogo, o nada, ou um céu etéreo, mas um novo mundo. Noé surgiu, depois do dilúvio, em um aparente mundo novo. Pedro descreve que após o julgamento do fogo, surgirá, verdadeira e definitivamente um novo mundo. Segundo o texto, a nova criação brotará da velha criação. Deus não fará, com isso, um novo ato semelhante ao de Gn. 1.1 – do nada – mas a partir do que ele já fez. Ou seja, do já existente ele trará algo novo. O autor aos Hebreus traz uma imagem diferente quando comparada ao texto de Pedro (Hb. 12.26-28). De um mundo abalado por Deus, sacudido, surgirá um mundo mais sólido.  

A linguagem do julgamento descrita por Pedro não pode ser separada do ensino bíblico de que a criação é fruto das mãos do bondoso Criador. Se a criação não é algo bom, o julgamento a consumirá por completo. Se ela ainda é a boa criação de Deus, mesmo sabendo que se encontra fora dos trilhos, o julgamento a resgatará, punindo somente aquilo que a desfigura.

3 comentários:

Clodoaldo Pereira Cidade disse...

Muito bom o texto meu teólogo!!! Deus siga iluminando o seu entendimento.

Higor Silva Santos disse...

Belo texto!
Deus seja louvado!

Anônimo disse...

precisamos reforçar o conceito de uma terra restaurada e livre do pecado.