Nesta última segunda (05/06) comemorou-se o dia mundial do meio ambiente. Uma data tão despercebida quanto nossa atenção dada ao cuidado com a natureza. Muitas igrejas adotam em seus calendários litúrgicos datas comemorativas para serem celebradas no espaço do culto: dia da mulher, dia das mães, dia dos pais são alguns exemplos. Mas qual de nossas igrejas alguma vez realizou o culto com sua temática voltada para o meio-ambiente? Qual foi a última vez que ouvimos um sermão onde fomos exortados sobre nossa responsabilidade com a natureza? Que ministério, dentre os vários que uma igreja possui, é voltado para o cuidado com o meio ambiente? A resposta para esses questionamentos revelará a falha do nosso atual cristianismo.
Faz alguns dias o presidente Donald Trump anunciou a retirada dos Estados Unidos do acordo de Paris – tratado assinado por mais de 130 países que visa a diminuição de emissão de poluentes das fábricas, bem como outras medidas limitadoras para o aumento da temperatura da terra. Ele mesmo se denomina um cristão conservador. Isso deve explicar sua visão equivocada com o meio ambiente. Ele preserva o equívoco conservador que olha a natureza como algo que só deve ser explorada. A verdade que nos envergonha (ao menos deveria) é que não nos importamos com a natureza.
Por que perdemos o olhar tão fascinante e ambiental da mensagem bíblica? Boa parte da crise ambiental que temos hoje se deve ao cristianismo. Não o cristianismo das páginas da Bíblia, mas ao cristianismo que se esqueceu de olhar com atenção para o texto bíblico. O mundo atual é um mundo pós-cristão, mas a mentalidade sobre a natureza ainda é uma mentalidade cristã equivocada: a natureza existe para ser dominada e esse domínio se dá pela força destrutiva.
Nosso cuidado com a natureza se dará na proporção que prestarmos mais atenção ao texto bíblico. Precisamos mudar o nosso ainda não admitido referencial gnóstico, que desmerece a boa criação material de Deus, por um referencial bíblico judaico-cristão, que reafirma a bondade da criação apesar de sua atual deterioração, bem como o empenho incansável do Criador em consertar a natureza. Mas como se dará isso? Entender que somos salvos como parte de um projeto maior, a salvação de todo o mundo criado em sua total biodiversidade. Esse novo referencial deve estar presente em nossos cânticos, que infelizmente desprestigiam a beleza da ordem material criada em busca de um escape desse mundo e não na busca de sua redenção.
Dito isso, será que Jesus entendia que sua missão tinha relação com o destino da terra? Ao nascer, Jesus foi colocado num cocho de alimentar animais. Um grande perigo para uma criança. Esse incidente não descreve somente sua humildade, mas sua missão. O Salvador inaugura, ou serve de sinal, de um novo mundo que surgirá, marcado pela harmonia entre homens e animais. Isso foi um maravilhoso sinal para os pastores. Eles viviam a céu aberto, numa rotina cansativa e perigosa, proteger as ovelhas dos lobos (Lc. 2.8). Os pastores houviram o cântico dos anjos que foi muito carregado de significado para eles (Lc. 2.13,14). Como seria, à luz do olhar de um pastor de ovelhas da época, um mundo de paz? Seria um mundo onde não se precisa arriscar a vida para viver. Um lugar de perfeita convivência entre homens e animais. O fascinante disso tudo é que Isaias já antecipou essa verdade em Is. 11.6-9. Um mundo não marcado pela disputa de território, mas pelo compartilhamento conjunto.
O texto de Mt. 9.1-8 nos leva nessa mesma direção. Por que Jesus diz, nesse texto, que tem na terra poder para perdoar pecados? Somente indo para Gênesis 3.17 onde encontramos uma relação entre o pecado humano e desordem natural. A resposta é que Jesus liberta a terra da maldição perdoando os homens dos seus pecados. Os danos que o pecado de Adão trouxe para a terra começam a ser desfeitos quando Jesus perdoa nossos pecados. Não é sem motivos que Paulo chamou Jesus de o segundo Adão (1Co. 15.45). O primeiro Adão aprisionou a terra ao pecado, o segundo, Jesus, a liberta no precesso de redenção da humanidade pecadora (At. 3.21; Rm. 8.18-21; Ef. 1.9,10; Cl. 1.15-19).
Não podemos entoar louvores ao Deus criador ao mesmo tempo que destruimos parte de sua boa criação. Se somos a imagem e semelhança de Deus, nossa vocação é sermos para a natureza o reflexo do cuidado desse Deus criador.
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