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Esta frase encontra-se na revista Primeiros Passos Na Fé, Doutrinas Básicas Para Novos Convertidos, A Importância Do Conhecimento, da editora Central Gospel, edição comentada pelo Pr. Jorge Linhares.
A assertiva usada como tema do nosso artigo encontra-se no contexto da revista que trata do novo nascimento. Eis a declaração completa: “Alguns mais radicais acreditam numa doutrina errônea que ensina que a pessoa quando se entrega para Jesus estará salva para sempre.”
Por qual razão os supostos “mais radicais” não são identificados na revista? É completamente injustificável, tanto metodológica quanto bíblico – teologicamente não fazer referência as razões da crença de um determinado grupo quando se tenta desmerecer sua doutrina. Assim, não sabemos quem são os mais radicais nem a razão para acreditarem que o convertido não perde a salvação.
Para aqueles que desejam conhecer os “mais radicais”, passarei então a identificá-los: batistas tradicionais e presbiterianos. Logo, estes grupos são caracterizados como defendendo uma “doutrina errônea”, o que não passa de um eufemismo. O que se quer dizer na verdade é que batistas e presbiterianos defendem uma HERESIA. Não posso admitir que uma revista doutrinária faça uso de sua crença como meio para determinar indiretamente que batistas e presbiterianos estejam errados em sua forma de pensar. Esta atitude não passa de sectarismo exacerbado. Seria admissível o autor informar que existem grupos protestantes que defendem a crença que o convertido não perde a salvação, ao passo que outros, como assembleia de Deus, revista publicada, e essencialmente fundamentada em sua doutrina, não compreende desta forma.
O mais preocupante não se encontra no fato da revista denominar de doutrina errônea a crença de que o convertido não perde a salvação. O absurdo, se me permitem assim falar, acha-se no fato de que batistas estejam usando esta literatura como material para a escola bíblica. Estão desta forma, ensinando a batistas que é um engodo pensar como batista. São batistas aprendendo a doutrina de outra denominação, ao invés de estarem conhecendo a sua.
Se a doutrina da não possibilidade de o convertido perder a salvação é errônea, eminentes teólogos como: João Calvino (1509-1564), John Gill (1697-1771) Charles Hodge (1797-1878), A.A.Hodge (1823-1886), Charles Spurgeon (1834-1892), A.H.Strong (1836-1921), Millard J. Erickson, Wayne Grudem, Augustos Nicodemos e tantos outros, não são outra coisa senão teólogos enganados.
A declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira nos diz o seguinte com fundamento nas Escrituras Sagradas:
A salvação do crente é eterna. Os salvos perseveram em Cristo e estão guardados pelo poder de Deus. Nenhuma força ou circunstância tem poder para separar o crente do amor de Deus em Cristo Jesus. O novo nascimento, o perdão, a justificação, a adoção como filhos de Deus, a eleição e o dom do Espírito Santo asseguram aos salvos a permanência na graça da salvação. Jo. 3.16,36; 10.28,29; 1Jo. 2.19; Mt. 24.13; Rm. 8.35-39; Jd. 24
Textos que declaram que somente aqueles que perseverarem serão salvos, não devem ser usados para se dizer que o convertido pode perder a salvação se não perseverar. Só persevera até o fim quem é verdadeiramente convertido (Jo. 8.31). A perseverança final determina quem é o verdadeiro salvo.
Se usarmos Hebreus 6.4-8 como recurso para defendermos a perda da salvação, teremos também que admitir a impossibilidade de se restaurar o apóstata. Strong entende esta passagem como nos informando “qual seria o destino dos verdadeiros regenerados, se eles não perseverassem”. Logo, o caso é entendido como hipotético, não como real. No verso 9 Paulo vai dizer que não espera isto dos verdadeiros salvos.
Aqueles que não admitem a certeza da salvação contestam que se o crente não pode perdê-la então ele poderá viver em pecado, pois está salvo para sempre. Sobre isto, Hodge nos informa que no sistema de Paulo “a salvação em pecado é uma contradição lógica.” O verdadeiro salvo busca constantemente uma vida de santidade. Se for verdade que o salvo pode se separar de Cristo, então é mentira o que Paulo fala em Romanos 8. 35-39.
A doutrina da certeza da salvação encontra-se fundamentada na doutrina da eleição, seja ela compreendida nos sistemas calvinista ou arminiano. É impossível o eleito perder a salvação, pois isto contrariaria a própria eleição feita por Deus. A doutrina da união com Cristo, pois ela é indissolúvel. A doutrina da regeneração, pois ela é o começo da nova criação de Deus. A doutrina da justificação, pois ela nos garante que não há mais nenhuma condenação para o crente (Rm.8.1). A possibilidade de o verdadeiro convertido perder a salvação seria a anulação completa destas verdades.
Não devemos pensar que a certeza da salvação induz o convertido ao orgulho. A seguinte declaração de Charles Hodge nos esclarece muito bem isto:
Ver-se-á que o apóstolo não apóia a perseverança dos santos na natureza indestrutível da fé, nem na natureza imperecível do princípio da graça no coração, nem na constância da vontade do crente, mas tão-somente no que está fora de nós. A perseverança, ensina ele, deve-se ao propósito de Deus, à obra de Cristo, à habitação do Espírito Santo e à fonte primária de tudo, ao infinito, misterioso e imutável amor de Deus. Não nos guardamos a nós mesmos: somos guardados pelo poder de Deus, por intermédio da fé, para a salvação (1Pe. 1.5).
Recomendo a leitura dos seguintes teólogos para uma compreensão aprofundada do assunto: Millard J. Erickson, p. 242-246; Wayne Grudem, p. 659-674; Charles Hodge, p. 732-733, 1108-1110; A.B.Langston, p. 242-246; Augustus H. Strong, p. 624-631; Zacarias Severa, p. 305-309.
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