O que falar de um filme como Vingadores, Guerra Infinita? Não me vem outra resposta senão THANOS. Que vilão tão bem construído! Nada daquelas caricaturas ultrapassadas, tais como risada estrondosa, voz grave ou rouca demais como Mumm Ra de Thundercats, ou discursos de destruição total do mundo semelhante ao encontrado em X-Men, Apocalipse. Não é atoa que “uma boa história é boa quando o vilão é bom, pois um inimigo poderoso força o herói a crescer para enfrentar o desafio” (Voegler).
O titã louco foi magistralmente humanizado, seja pela serenidade de sua voz, ou mesmo expressões faciais. Thanos é bastante pragmático em sua visão de mundo. Sua “nobre” intenção é manter o equilíbrio do universo, dessa forma ele deseja realizar um controle demográfico em escala cósmica com o genocídio da metade da população de todo o universo, isso fará com que a balança dos recursos naturais se estabilize com seu consumo. O fim da fome só virá com o fim dos famintos, e ele está irredutivelmente certo de sua missão. “Um tipo perigoso de vilão é “o homem determinado”, a pessoa tão convencida de que sua causa é justa que nada o impedirá de alcançá-la” (Voegler).
É nesse cenário que encontramos duas visões de mundo que se colidem. Se Thanos está disposto a arriscar tudo para dizimar metade da vida do universo, os Vingadores se arriscam para salvar uma única pessoa. “Não negociamos vidas!”, disse Steve Rogers. Descartar metade da vida do universo para que a outra sobreviva, como quer Thanos, é uma visão de mundo pagã. Já a defesa da vida, mesmo sob o risco de morte defendida pelo Capitão América é essencialmente cristã. Enquanto todos buscavam se salvar das epidemias que assolavam os dois primeiros séculos da era cristã, os seguidores de Jesus decidiram ficar para cuidar dos doentes, mesmo sob o risco de morte. Se era comum o alto número de infanticídio de meninas no mundo greco-romano, foram os cristãos que levantaram suas vozes em protesto. O respeito a dignidade do outro, não importando sua classe social ou etnia, mesmo que defendido em um mundo secular como o nosso, não é outra coisa senão um valor cristão.
Thanos deseja promover uma roleta russa para inibir o aumento do controle populacional. Com um simples estalar de dedos, o gatilho da aleatoriedade seria acionado para dizimar metade da vida do universo, sem saber, todavia, quem seria o sorteado. Essa é a sua justiça, não escolher quem deverá morrer. Claro que o titã não estará entre os “felizardos” com a possibilidade de ser escolhido. Como muitos ditadores ao longo do tempo, Thanos, sob a justificativa do bem comum, está disposto a promover o sacrifício de muitos.
"Não é justo. Não devia ser você, mas é. Não tem problema. Você nunca poderia me machucar”. Nesse diálogo entre Visão e Feiticeira Escarlate – que para alguns soou meio piegas – ao menos para mim foi muito revelador. Uma coisa seria o Visão ser morto por alguém que lhe fosse indiferente, já ser morto pela pessoa que nunca lhe faria mal, é muito assustador. É aqui mais uma vez que vemos a visão de mundo cristã superando a cosmovisão pagã. A autodoação, o coração da mensagem do evangelho, que Deus Pai abriu mão de seu único Filho, e este abriu mão de toda sua glória para morrer numa cruz. Claro que Deus Pai nunca faria mal algum ao seu Filho, mas cabia a Ele a árdua tarefa de ferir seu Filho na cruz em benefício daqueles que na cruz deveriam morrer.
Para Thanos alcançar seu objetivo bastava fechar o punho e estalar os dedos. Deus em Cristo, por sua vez, fez o que fez não fechando seu punho nem estalando os dedos, mas abrindo suas mãos ao conceder perdão e ajuda aos mais fracos e ao abrir seus braços na cruz, não em demonstração de fraqueza, mas do poder do amor divino que destrói qualquer manopla do infinito.