O Homem-Aranha é um daqueles super-heróis que dificilmente alguém não consegue apreciar. Ele é um jovem estudante, possui obrigações em casa, na escola e mais, deseja salvar o mundo. Só sendo Peter Parker para alcançar êxito em tantas tarefas.
Apesar de ser um filme de herói de quadrinhos, o longa é muito real ao abordar nosso “maravilhoso mundo novo”. Pode-se identificar facilmente pessoas de diversas nacionalidades, a marca de uma era globalizada. A vida e dilemas de um estudante são pontuados na mediada do possível, tais como o amigo nerd, a paixão por uma garota e afins. Até mesmo o preconceito com os latinos é abordado, mesmo que em uma cena cômica.
O espanto que temos em descobrir quem é o vilão em sua “vida normal” foi uma experiência pouco vista em muitos filmes dessa natureza. Sempre imaginei o problema que seria para o Homem-Aranha viver numa cidade pequena ou mesmo numa área onde não predomina os grandes edifícios. Como lançar sua teia para se locomover? Não é que até isso nós encontramos no filme. Minha curiosidade foi atendida.
Mas o que isso tem a ver com a escolha dos doze discípulos? Bem, Parker é um estudante qualquer, ao menos é o que as pessoas imaginam. O mesmo se dá com a escolha de simples pescadores feita por Jesus. Embora Parker possua uma força e habilidades incomuns a qualquer ser humano, o que justifica a escolha feita por Tony Stark, no caso de Jesus não havia nada nos discípulos que justificasse a sua seleção. Enquanto o primeiro escolhe seu “discípulo” porque viu algo, o segundo escolhe porque deseja que algo no futuro seja visto na vida de seus discípulos. Tony Stark atuou por mérito, Jesus por pura graça.
Logo no início do filme vemos Parker entusiasmado em saber ter sido alistado para sua grande tarefa. Sua alegria é maior que sua responsabilidade, ao menos no início. Ao tentar impedir o roubo em um banco, por pouco não provoca uma tragédia maior. Quando perseguiu o vilão da história - mais uma vez as coisas não saem como imaginava – se não fosse o próprio Stark para socorre-lo, teria sido o Homem-Aranha o vilão por quase provocar a morte de dezenas de pessoas. Ele parece não acreditar que Tony Stark é mais sabedor dos perigos de ser um super-herói do que ele. Parker possui o desejo de fazer, embora lhe falte um pouco a disposição em aprender.
Temos aqui uma teia que liga o Homem-Aranha aos doze apóstolos. Os discípulos aceitam o convite de Jesus para segui-lo, mas ao longo da caminhada parecem não entender o que isso implicaria. Estão alegres por fazerem parte do movimento liderado pelo messias prometido, o rei ungido que traria o reino de Deus ao mundo. No entanto...
Jesus os chama para assumir o caminho do sofrimento e amor doador, mas o que dois deles desejam é a morte de uma comunidade de samaritanos (Lc. 9.51-56). O que significa poder é redefinido por Jesus ao demonstrar força na fraqueza e serviço humilde ao outro, enquanto os discípulos estão preocupados em saber quem será o maior entre eles. Ao tentarem agradar seu mestre os discípulos o decepcionam pois tentam impedir que crianças o encontrem, quando o mesmo deixou bem claro que receberia em seus braços todos que viessem até ele. Embora Jesus tenha enfatizado a necessidade de sua morte na cruz, um de seus seguidores tenta corrigi-lo contra tal pensamento. Mesmo tendo demonstrado tanto em ações quanto em palavras a necessidade de seus seguidores se manterem unidos em torno dele, antes de ir para a cruz todos os abandonaram, enquanto ele os amou até o fim.
Em um de seus diálogos Parker é indagado sobre a seguinte questão: “Como é ser famoso quando ninguém sabe que é você?” Neste caso, o que o motiva a arriscar sua vida em favor dos outros, se quando ele é visto em ação o que se vê é a figura do Homem-Aranha e não a face do Peter Parker? Mas não foi isso o que Jesus ensinou em Mt. 6.1-6 sobre o ajudar sem a necessidade de ser visto? Assim como Parker, somos nós, seguidores de Jesus. Nossa função não é tornar nosso nome conhecido, mas tornar conhecido o nome de Cristo por aquilo que fazemos. Não precisamos de selfies quando nos dispomos a ajudar os outros.
Ao saber que perderá seu traje, algo que não poderia imaginar, Stark lhe diz: “Se você não é nada sem o traje, então você não deveria tê-lo.” Onde está minha identidade? Quem é o Homem-Aranha? Quem são os discípulos? Aqui, Bíblia e Hollywood nunca estiveram tão próximos. Peter Parker aprenderá que pode ser o herói independente do traje. Não é o traje quem salva, mas aquele que o veste. Não foi o mesmo que aconteceu com os discípulos de Jesus? Ele disse que para fazerem o que foram vocacionados a fazer não precisariam de traje algum: “Não levem ouro, nem prata, nem cobre em seus cintos; não levem nenhum saco de viagem, nem túnica extra, nem sandálias...” (Mt. 10.9,10). A identidade deles estava atrelada à missão e não a alguma espécie de posse.
Peter Parker terá em sua vida muitas missões para realizar, muitos riscos a correr, suor a derramar. Ele não saberia viver de outra forma. Conosco, deve ser o mesmo. Temos uma missão. Fomos alistados num grande exército, que ao contrario dos Vingadores, é formado por um único herói, Jesus. Ele nos envia a esse mundo. Pede que escalemos montanhas, derramemos nosso suor, nos arrisquemos. Foi o que ele disse: “Assim como o Pai me enviou, eu os envio.” (Jo. 20.21).
Parker foi convidado a lançar sua teia, os discípulos suas redes. E nós?