Minha relação com os X-Men vem de longa data, quando o desenho era apresentado pela Rede Globo nos anos 90, 1994 para ser mais preciso. Tenho, desse mesmo ano, um Hq do Wolverine nº 34. Sempre que assistia aos episódios eu pensava (lembro que comentei isso uma vez com meu primo George): quando farão um filme dos X-Men, ou do Wolverine? Muita coisa se passou desde então, e ontem pude assistir ao último filme do Wolverine, Logan. Sempre que nos encontramos diante de algo grandioso, alguma coisa nos acontece, uma sensação de alegria, somos tomados por um sentimento de grandeza. Foi isso que me ocorreu ao assistir esse épico do cinema.
Sei muito bem que o filme é violento. Mas em nenhum momento o diretor rompeu os limites entre violência abordada e maldade explorada de forma desmedida. Percebe-se que "existe um convite para a redenção, a esperança de uma humanidade melhor, e não uma negação niilista do tipo: Essa é a vida real. É melhor se acostumar com ela" (Brian Godawa). O filme conseguiu algo difícil em se tratando de longas de super-heróis, a humanização dos personagens. Somos brindados com emoções verdadeiras tanto de Logan quanto do professor Charles, mas nunca sentimentalismo forçado. O primeiro possui um enorme cuidado com o professor nonagenário, e o segundo nos mostra a dor de uma mente cansada que somente deseja ter uma refeição e uma noite de sono em paz – mais humano, impossível.
Tendo isso por assentado, quero fazer referência a duas frases ditas em momentos distintos do filme. A primeira foi pronunciada por Charles ao próprio Logan: “Eu sempre sei quem você é. É que as vezes não te reconheço”. Ouvimos isso depois de vermos um Wolverine decadente, alcoólatra, tentando negar quem é ao assumir a profissão de motorista. Sabemos quem é Wolverine, mas não estamos reconhecendo-o. Olhando para a Bíblia, vemos um Deus que nos criou, que sabe quem nós somos, “imagem e semelhança de Deus” (Gn. 1.27), mas que infelizmente não nos reconhece. Fomos criados para refletir a vida de Deus nesse mundo, mas o que espalhamos é morte, indiferença, orgulho, egoísmo, imoralidade e destruição. Caímos num momento da história de nosso estado de bondade inicial (Gn. 3). Somos quem não deveríamos ser.
A outra frase foi dita por Logan a jovem mutante Laura: “Não seja aquilo que eles fizeram de você”. Que frase bíblica! Laura é uma mutante, produto de laboratório, criada sem nenhum afeto, propensa a ser para os outros aquilo que outros foram para ela. Diante das injustiças sofridas, Laura poderia ter sua identidade distorcida, definida somente por sua dor. Ela precisa ser mais que a soma total de seus sofrimentos. Miroslav Volf, teólogo batista, assim se expressa: “Em vez de sermos definidos pelo modo como os seres humanos se relacionam conosco, nós somos definidos pelo modo como Deus se relaciona conosco”. Laura precisa ter sua identidade definida pelo comportamento de Logan com ela. Como cristão, devo ter meu comportamento alterado não pela injustiça que outros praticaram contra mim, mas pelo amor, misericórdia e bondade realizado por Deus em Cristo Jesus na cruz, lugar onde ele carregou toda nossa culpa e dor.
Após se despedir de Logan, que foi morto sobre um madeiro (1Pe. 2.24) Laura se encontra diante de uma nova possibilidade, um futuro aberto se apresenta. Da mesma forma, Deus em Cristo Jesus nos promete um futuro de redenção, um mundo de vida, paz, justiça e beleza, um novo céu e nova terra (Ap. 21), o que para Laura seria a esperança do lugar chamado Éden.
Enquanto Logan vive uma decadência física e Charles uma fraqueza mental, o nosso herói Jesus, aquele que morreu, ressuscitou, ascendeu ao céu e em breve voltará de mudança para nosso mundo continua sendo “o mesmo ontem, hoje e para sempre” (Hb. 13.8).
Obrigado por tudo Wolverine.