Faz algum tempo fui convidado para pregar num culto de jovens onde o tema era: O mundo é dos espertos, mas o céu dos escolhidos. Por discordar do slogan acabei pregando outro assunto, pois mesmo que concordasse, não sei como poderia encontrar um texto consistente com tal ideia à luz da narrativa bíblica que descreve claramente o envolvimento de Deus com sua criação. Sem falar, como bem já afirmou o teólogo Timóteo Carriker, “a Bíblia tanto começa quanto termina com criação”. Uma verdade tão evidente e ao mesmo tempo completamente negligenciada.
No artigo Um Cristão Afirma: Não quero ser salvo, escrito anteriormente, abordamos o conceito de salvação como algo que ocorre na criação com o intuito de redimir, recriar todo o universo. Aqui, teremos por objetivo enquadrar o conceito de céu dentro dessa estrutura maior, que é a narrativa da história de Deus com sua criação.
A fé cristã tem suas raízes na tradição judaica. Queremos dizer com isso, que eles acreditavam que o Deus Criador possuía uma história de atuação no mundo, e particularmente em Israel, atuação esta que tinha por objetivo levar a sua criação a atingir o objetivo para o qual foi criada, encher-se da bondade, beleza e justiça do SENHOR. O Novo Testamento encontra-se aliado com o Antigo neste quesito.
Sim, tudo bem. Mas onde entra o céu nessa história? Como resposta inicial, pode-se dizer que o céu faz parte de um capítulo na grande história épica do Deus Criador, um capítulo importante, mas não final. O imaginário evangélico popular tornou o céu no grande clímax da narrativa bíblica, não entendendo, desta forma, que ele é somente um intervalo para um final muito mais grandioso, o novo céu e nova terra, o novo começa de uma mesma história da criação.
Este entendimento equivocado do céu, se deve, também, a negligência da exposição nos púlpitos das igrejas do conteúdo maior da revelação bíblica. Me refiro, neste caso, à doutrina do Estado Intermediário. Isto, porém, não é a causa do problema, antes, é um diagnóstico de um quadro clínico mais grave, o sentimento anti-intelectual nas igrejas. Para muitos, quanto mais espiritual menos teológico ou racional deve ser o sermão, ou mesmo o entendimento da Bíblia, e por consequência do futuro que nos aguarda.
A doutrina do Estado Intermediário (o antídoto para essa confusão), no que diz respeito aos salvos, afirma que estes se encontram já em um lugar de descanso, em estado desincorporado, desfrutando das bênçãos da presença de Deus. Este lugar é céu, paraíso ou seio de Abraão na linguagem bíblica. Mas como a própria doutrina diz, é um estado intermediário, não completo ou final. O céu, neste aspecto, é um lugar de segurança. Uma habitação temporária até o dia da ressurreição do corpo. Não é o destino prometido por Deus, mas o lugar até que o destino prometido seja completamente cumprido.
Se a ressurreição é algo aguardado para o último dia, não aquilo que acontece imediatamente após a morte, o que ocorre com aquele que morre em Cristo antes desse evento? A resposta da Bíblia é que imediatamente após a morte ele habitará o céu. É como se Deus dissesse que a esperança em suas promessas não acaba com a morte, pois aquele que morreu continuará confiando que um dia tudo haverá de ser plenamente cumprido, aguardando isso, agora, no céu. Foi isso o que Jesus declarou para o ladrão em Lc. 23.43. Entrar no reino, na esperança judaica, era algo que se concretizaria no futuro, quando o Messias estabeleceria definitivamente o Reino de Deus na terra. Jesus promete, para surpresa do ladrão na cruz uma antecipação desse encontro no paraíso, mas não anula a esperança da entrada no Reino.
Uma existência eterna no céu para o crente que morre, como pensam muitos cristãos, torna-se uma confirmação da doutrina grega da imortalidade da alma. Não há vitória sobre a morte nesse entendimento, pois encontrar-se eternamente morto é a vitória. Essa existência no céu para o crente que morre, embora seja confirmada por Paulo (veja 2Co. 5.8; Fp. 1.23), é vista por ele como um momento de espera para a ressurreição, tanto do corpo quanto da criação (1Co. 15.52; 1Ts. 4.16; Rm. 8.18-25). Logo, viver para sempre no céu é o mesmo que encontrar-se para sempre morto.
Essa análise não anula a realidade do céu, nem mesmo que não iremos nos encontrar lá – basta morrer em Cristo antes do seu retorno – mas não confere ao céu o nosso destino final. O imaginário de que Jesus virá nos levar ao céu, como muitos pensam que será o arrebatamento (falaremos disso em outra postagem) não faz jus ao ensino bíblico. Mas o que falar de Jo. 14.2,3? O texto não nos diz que Jesus levará o salvo para morar no céu? Sim e não.
Sim, se entendermos que Jesus garantiu uma habitação para o salvo no céu. Não, se queremos com isso afirmar que ele prometeu uma morada eterna no mundo celestial. Note que no texto nos é prometido que estaremos onde Cristo estiver, e não que estaremos sempre no céu. Agora ele se encontra no céu, a dimensão de Deus. Mas, em breve, tanto visível quanto fisicamente ele aparecerá na terra, sua segunda vinda. Assim o quadro fica completo: somos levados ao céu (as moradas) quando morremos e trazidos a terra quando da segunda vinda de Cristo onde ocorrerá a ressurreição dos mortos (1Ts. 4.14,16 – peço que leia o texto sem a ideia, infelizmente tão difundida, que Jesus virá levar seu povo para morar no céu, pois não é o que o texto diz, mas sim que Ele vem habitar com seu povo na terra).
Diante de tudo isso, busquemos visualizar todo o filme da redenção e não simplesmente uma de suas cenas. O capítulo final de todo esse drama, e a surpresa que ele provocará (a cena ainda não ocorreu, mas o roteiro já se encontra feito), não é que subiremos até Deus, mas sim, que Deus descerá para encontrar-se para sempre com seu povo. Deus vem! O Deus EMANUEL não significa “nós com Deus”, mas DEUS CONOSCO. Deus em sua criação, com seu povo, tornando tudo novo (Is. 65.17). O céu, no término da narrativa bíblica, não é o lugar para onde vou (embora possa ir, você já entendeu), mas o lugar de onde Deus vem (Ap. 21.1-3). Como bem se expressou C. J. H. Wright: “Quem quer apenas o céu, quando Deus promete o céu e a terra?”.
No artigo Um Cristão Afirma: Não quero ser salvo, escrito anteriormente, abordamos o conceito de salvação como algo que ocorre na criação com o intuito de redimir, recriar todo o universo. Aqui, teremos por objetivo enquadrar o conceito de céu dentro dessa estrutura maior, que é a narrativa da história de Deus com sua criação.
A fé cristã tem suas raízes na tradição judaica. Queremos dizer com isso, que eles acreditavam que o Deus Criador possuía uma história de atuação no mundo, e particularmente em Israel, atuação esta que tinha por objetivo levar a sua criação a atingir o objetivo para o qual foi criada, encher-se da bondade, beleza e justiça do SENHOR. O Novo Testamento encontra-se aliado com o Antigo neste quesito.
Sim, tudo bem. Mas onde entra o céu nessa história? Como resposta inicial, pode-se dizer que o céu faz parte de um capítulo na grande história épica do Deus Criador, um capítulo importante, mas não final. O imaginário evangélico popular tornou o céu no grande clímax da narrativa bíblica, não entendendo, desta forma, que ele é somente um intervalo para um final muito mais grandioso, o novo céu e nova terra, o novo começa de uma mesma história da criação.
Este entendimento equivocado do céu, se deve, também, a negligência da exposição nos púlpitos das igrejas do conteúdo maior da revelação bíblica. Me refiro, neste caso, à doutrina do Estado Intermediário. Isto, porém, não é a causa do problema, antes, é um diagnóstico de um quadro clínico mais grave, o sentimento anti-intelectual nas igrejas. Para muitos, quanto mais espiritual menos teológico ou racional deve ser o sermão, ou mesmo o entendimento da Bíblia, e por consequência do futuro que nos aguarda.
A doutrina do Estado Intermediário (o antídoto para essa confusão), no que diz respeito aos salvos, afirma que estes se encontram já em um lugar de descanso, em estado desincorporado, desfrutando das bênçãos da presença de Deus. Este lugar é céu, paraíso ou seio de Abraão na linguagem bíblica. Mas como a própria doutrina diz, é um estado intermediário, não completo ou final. O céu, neste aspecto, é um lugar de segurança. Uma habitação temporária até o dia da ressurreição do corpo. Não é o destino prometido por Deus, mas o lugar até que o destino prometido seja completamente cumprido.
Se a ressurreição é algo aguardado para o último dia, não aquilo que acontece imediatamente após a morte, o que ocorre com aquele que morre em Cristo antes desse evento? A resposta da Bíblia é que imediatamente após a morte ele habitará o céu. É como se Deus dissesse que a esperança em suas promessas não acaba com a morte, pois aquele que morreu continuará confiando que um dia tudo haverá de ser plenamente cumprido, aguardando isso, agora, no céu. Foi isso o que Jesus declarou para o ladrão em Lc. 23.43. Entrar no reino, na esperança judaica, era algo que se concretizaria no futuro, quando o Messias estabeleceria definitivamente o Reino de Deus na terra. Jesus promete, para surpresa do ladrão na cruz uma antecipação desse encontro no paraíso, mas não anula a esperança da entrada no Reino.
Uma existência eterna no céu para o crente que morre, como pensam muitos cristãos, torna-se uma confirmação da doutrina grega da imortalidade da alma. Não há vitória sobre a morte nesse entendimento, pois encontrar-se eternamente morto é a vitória. Essa existência no céu para o crente que morre, embora seja confirmada por Paulo (veja 2Co. 5.8; Fp. 1.23), é vista por ele como um momento de espera para a ressurreição, tanto do corpo quanto da criação (1Co. 15.52; 1Ts. 4.16; Rm. 8.18-25). Logo, viver para sempre no céu é o mesmo que encontrar-se para sempre morto.
Essa análise não anula a realidade do céu, nem mesmo que não iremos nos encontrar lá – basta morrer em Cristo antes do seu retorno – mas não confere ao céu o nosso destino final. O imaginário de que Jesus virá nos levar ao céu, como muitos pensam que será o arrebatamento (falaremos disso em outra postagem) não faz jus ao ensino bíblico. Mas o que falar de Jo. 14.2,3? O texto não nos diz que Jesus levará o salvo para morar no céu? Sim e não.
Sim, se entendermos que Jesus garantiu uma habitação para o salvo no céu. Não, se queremos com isso afirmar que ele prometeu uma morada eterna no mundo celestial. Note que no texto nos é prometido que estaremos onde Cristo estiver, e não que estaremos sempre no céu. Agora ele se encontra no céu, a dimensão de Deus. Mas, em breve, tanto visível quanto fisicamente ele aparecerá na terra, sua segunda vinda. Assim o quadro fica completo: somos levados ao céu (as moradas) quando morremos e trazidos a terra quando da segunda vinda de Cristo onde ocorrerá a ressurreição dos mortos (1Ts. 4.14,16 – peço que leia o texto sem a ideia, infelizmente tão difundida, que Jesus virá levar seu povo para morar no céu, pois não é o que o texto diz, mas sim que Ele vem habitar com seu povo na terra).
Diante de tudo isso, busquemos visualizar todo o filme da redenção e não simplesmente uma de suas cenas. O capítulo final de todo esse drama, e a surpresa que ele provocará (a cena ainda não ocorreu, mas o roteiro já se encontra feito), não é que subiremos até Deus, mas sim, que Deus descerá para encontrar-se para sempre com seu povo. Deus vem! O Deus EMANUEL não significa “nós com Deus”, mas DEUS CONOSCO. Deus em sua criação, com seu povo, tornando tudo novo (Is. 65.17). O céu, no término da narrativa bíblica, não é o lugar para onde vou (embora possa ir, você já entendeu), mas o lugar de onde Deus vem (Ap. 21.1-3). Como bem se expressou C. J. H. Wright: “Quem quer apenas o céu, quando Deus promete o céu e a terra?”.