Ao descrever o profetismo no Antigo Testamento, Calvino deixa bem claro que a palavra do profeta só seria genuína se esta fosse precedida pela Palavra de Deus. A Palavra do SENHOR deve, necessariamente, anteceder a declaração do profeta. Como exemplo usado pelo reformador no Livro 4, Cap. VIII, Seç. 3, o profeta Ezequiel (Ez. 3.17) deveria antes ouvir da boca do SENHOR o que ele deveria transmitir, não permitindo assim, ao profeta, nenhuma possibilidade de transmitir algo que não fosse antes dado pelo SENHOR.
O mesmo se dá com os apóstolos. Assim como os profetas, não deveriam ensinar nada de seu próprio arbítrio, mas o que antes tinha sido transmitido pelo Senhor Jesus. Como fundamento Calvino usa o texto de Mt. 28.19,20 (livro 4, cap. viii, seç.4).
Quando da necessidade do registro escrito daquilo que se havia falado da parte do SENHOR, a Escritura agora é a norma de todo ensino. Assim como a Palavra de Deus antecedia a palavra do profeta, a Escritura deve preceder toda e qualquer declaração doutrinária. Cabe ao sacerdote, como é citado por Calvino (livro 4, cap. vii, seç. 6) não ensinar nada que seja estanho àquilo que existe na Lei. Como fundamentação ele cita Ml. 2.7. Até mesmo os profetas, salienta Calvino, não trouxeram novidade no que diz respeito ao conteúdo da Lei, antes foram seus interpretes.
Com a encarnação do Filho de Deus, consumou-se toda a revelação dada pelo Senhor. Calvino entende que Hb. 1.1,2 (livro 4, cap. viii, seç. 7) nos ensina que Deus não falará mais pelos lábios de um ou de outro, antes, em Jesus conclui-se todo o ensino da parte de Deus. Com Cristo dá-se início a última hora (1Jo.2.18), últimos tempos (1Tm. 4.1) e últimos dias (At. 2.17; 2Tm. 3.1; 2Pe. 3.3) o que se deve inferir, segundo Calvino, que não se pode admitir nenhuma novidade doutrinária. Não “é função do Espírito” transmitir novas revelações ou um “novo gênero de doutrina”, mas selar na mente do salvo a doutrina existente no evangelho (livro 1, cap. ix, seç. 1).
Para Calvino, não há mais revelação normativa, somente a Bíblia possui autoridade neste quesito. Ele usa como exemplo 1Co. 14.29,30 para afirmar que a palavra do profeta deve ser julgada pelo crivo da Palavra escrita de Deus (livro 4, cap. viii, seç. 9). Entende-se o profeta aqui como aquele que expõe a vontade de Deus para a igreja com base nas Escrituras e não alguém que comunica novas verdades. Assim se expressa Calvino em seu comentário de 1Coríntios, 2ª ed. p. 392.