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O livro do Apocalipse na mente de muitas pessoas é sinônimo de terror. Quem nunca ficou intrigado com a representação gráfica dos gafanhotos, cavaleiros, besta do mar e da terra, chifres e afins? O próprio título do livro serve como termo para denominar grandes catástrofes. Não é sem motivo que o livro do Apocalipse seja pouco lido nas igrejas.
O grau de aceitação do Apocalipse será proporcional a sua demitização, quando o escoimarmos do estigma adquirido ao longo do tempo que o tornou em literatura obscura e sem sentido.
A palavra αποκάλυψις (apocalipse) significa simplesmente revelação. O que no dizer de Emil Brunner é o “autodesvendamento de Deus”. É o tornar algo conhecido somente por meio da ação divina.
O autor do escrito se identifica como João. A tradição da igreja antiga, em especial Justino e Clemente de Alexandria, entendia que o João do Apocalipse era o apóstolo, filho de Zebedeu. Irineu entendeu, contrariando o pensamento de Justino que este João era o mesmo que escreveu o quarto evangelho. Já o bispo Dionísio de Alexandria (séc. III), afirmava que o autor do Apocalipse não poderia ser o mesmo que escreveu o quarto evangelho, pois a diferença de estilo nos dois escritos era muito evidente.
Assim, o autor do Apocalipse seria o João de Éfeso, não o apóstolo do quarto evangelho. Esta posição é bastante possível de ser verdadeira, pois o João do Apocalipse não se inclui no círculo dos 12 apóstolos (cf. Ap. 21.14). Por outro lado, ele se autodenomina profeta (Ap. 10.10-11).
Os apocalipses eram escritos secretos, somente alguns felizardos tomavam conhecimento. O apocalipse de João, por sua vez, deveria ser lido no culto público (cf. Ap. 1.3).
O livro tem um objetivo muito claro: alertar seus leitores sobre a espera do fim. Enquanto Daniel fomenta uma atitude de tranqüilidade em suas visões, pois o que ele relata somente acontecerá “nos últimos dias” (Dn. 2.26-27; cf. Dn 12 e veja que o próprio Daniel não participará dos acontecimentos finais), o apocalipse, por outro lado, descreve “o que em breve há de acontecer” (Ap. 1.1). João, assim como Daniel, quer tranquilizar seus leitores, mas ao contrário daquele alertar sobre a urgência do fim.
Sendo o fim uma realidade próxima, João informa que o Dragão possui pouco tempo para suas investidas (Ap. 12.12; Cf. 20.3). Não menos tempo possui as comunidades e o mundo para uma busca de mudança de vida. Com isto em mente pode-se compreender a descrição de Jesus batendo à porta da igreja em Ap. 3.20, ou o chamado de todos os povos para temer e adorar “aquele que fez os céus, a terra, o mar e as fontes das águas” Ap. 14.6. Os alertas não devem ser ignorados, pois o dia do juízo está próximo (Ap. 11.18).
Se o objetivo do apocalipse é alertar os crentes sobre a proximidade do fim, não menos importante é o seu conceito, pois este deve ser compreendido como pessoal, o encontro glorioso com o Senhor Jesus Cristo (Ap. 22.12,20), não a expectativa desesperada pela destruição do cosmo criado.
Vivemos um momento onde muitos tentam prever o fim da história. O livro do apocalipse serve como literatura que propõe uma nova perspectiva, a esperança do fim, não o fim de toda esperança. O que para muitos é o fim de tudo, para os salvos é o início de um novo começo (Ap. 21-22).